Jordan Bardella, líder do partido da Reunião Nacional francesa, não precisou gritar ou atacar.
Nem alterar a voz nem falar palavrões.
Ou xingar jornalistas.
Nem repetir explicitamente o que os Le Pen (pai e filha) diziam e dizem sobre os imigrantes, a eugenia ou o nazismo.
O novo líder da extrema direita defende as mesmas bandeiras. Mas, o que mudou? O formato da mensagem.
A voz respeitosa, que não se altera, transmite segurança e, ao mesmo tempo, branda e seduzindo um novo eleitor. O mesmo eleitor que repete um jargão bem conhecido entre nós, brasileiros: “No passado é que era bom”.
Cécile Alduy, da Universidade Stanford, diz que o tom da mensagem é a grande transformação da extrema direita sob Bardella. Le Pen pai vociferava na TV, agredia e violentava adversários; a filha segue os mesmos trilhos.
O novo líder da Reunião Nacional é o oposto. Porém da mesma moeda.
O leitor atento observará que Hitler sempre vociferava em seus discursos e na escrita. O livro dele, Minha Luta, é uma exaltação da violência verbal na política.
Não basta vencer o adversário. É preciso justificar o descarte.
Bolsonaro, Trump e Milei ainda representam essa extrema direita a moda hitlerista.
O comportamento de Bolsonaro durante a pandemia também explica sua derrota: 700 mil mortos, 3o país no mundo nesse registro macabro. Quem mais matou na pandemia? Os Estados Unidos, liderados pelo negacionista Trump.
A extrema direita menos virulenta tem a cara do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas. A voz do lobo, porém, denuncia quem se veste de cordeiro.
Nem todos os que dizem Senhor, Senhor muitas vezes entram no reino dos céus. Vide Michelle Bolsonaro.
Uma jornalista da CNN foi expulsa do Centro de Convenções em Balneário Camboriú enquanto cobria a Conferência da Ação Política Conservadora (CPAC), uma repaginação do integralismo.
Foi neste evento que Milei foi condecorado com a medalha Imorrível, Imbrochável e Incomível, a mais nova insígnia do sempre macho Bolsonaro.
Lógico que o modelo francês da extrema direita ainda não é copiado ou ainda não se ajusta a todos os lugares, como em Balneário Camboriú onde as hienas se vestem de leões.
Mas a ambiguidade que caracteriza o falso (Bertold Brecht) faz as linhas paralelas se encontrarem neste finito mundo. Mundo conhecido, testado, de horrores fartamente relatados, gente virando número e engolidas pela terra.
Um mundo com gosto de sangue na boca.