Nunca será demais elencar a principal razão para que exista miséria no mundo: poder!
Poder econômico, político, geopolítico.
Todas as invasões, guerras e colonialismos adotam a mesma metodologia de pauperização envolta em violências no intuito de dominar.
Deste modo, fica óbvio que não é uma decisão divina, não é destino, não é sina.
A dor social é construída pelos seres humanos ativos, desde os que estão no topo das decisões àqueles que militam nos micropoderes para sustentar e manter a estrutura do dragão devorador.
Dragão metafórico que cospe pauperização e aporofobia (pobreza extrema e horror ao pobre).
A fome mantida como coleira, domesticando potências, inteligências e ânsia de transformação pela fraqueza da matéria, não é novidade no percurso do capitalismo predatório.
A domesticação e violação das sementes para controlar o plantio, afastando a fecundidade da terra, que é sempre mãe do corpo – da multiplicação de grãos e frutos parecia ser a maior crueldade já pensada para a manutenção da dependência humana ao mercado alimentício.
Mas o dragão é insaciável.
O poder sempre quer mais.
Alagoas é um rincão nordestino composto de alagadiços, entre nascentes de água doce e fonte salgada de proteínas, nunca deveria abrigar nenhum tipo de fome ou sede, mas o poder maculou seu destino.
Não podemos perder de vista a influência de um tempo tecnologizado e ultraliberal a favorecer amplitudes de perversidade política, e agora podemos falar sobre a concessão do fornecimento de água potável em Alagoas, a mais recente política econômica de interesse empresarial que retroage a qualidade de vida da população a uma situação de deserto, mesmo com encanações e boletos caros a pagar para distribuidoras que minguam água nas torneiras.
Mentes compactadas na ânsia do lucro descobriram possibilidades de aumentar renda, umas comprando e outras vendendo o acesso da população ao líquido essencial: água.
Mesmo municípios que tinham distribuição própria de água viram na armação jurídica de balcão oportunidade de embolsar milhões, e venderam a concessão por mais de três décadas a uma empresa que reúne muitas outras associadas, cujos donos sequer pisam no chão e há muito não se identificam com a humanidade, à qual só sabem explorar no afã de aumentar seus lucros.
São donos de números e nada mais lhes interessa.
A partir de estudos técnicos que mapeiam possibilidades macros e micros de aumentar a margem de lucro, encontraram a contenção do jorro de água como caminho seguro, sobre o qual trafegam ao bel prazer, deixando os munícipes sem água nas torneiras, ou racionando essa chegada e o fluxo liberado, o que não permite que suba até as caixas de água comuns, utilizadas pelo povo para armazenar o líquido de uso cotidiano.
Se a vida desses alagoanos já era difícil, com a contenção do acesso a água, gerando uma situação de deserto permanente em seus lares, se tornou muito pior.
Enquanto os sócios lucram apenas dando ordens sobre o fluxo da água, a qualidade de vida do povo alagoano vai pelo ralo, assim como o dinheiro suado que usa para pagar a conta daquilo que não recebe a contento.
Os políticos que venderam as concessões seguem como dantes, vivendo em luxo, com seus poços artesianos e piscinas frescas, esquecendo o mal causado. O ultraliberalismo que domestica pela necessidade de água é agora a crueldade ímpar desta geração de políticos alagoanos.
Nosso repúdio a toda desumanidade institucionalizada segue exposto.