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A derrocada do espírita conservador

O jeito brasileiro de ser espírita conservador tem deixado muito a desejar, e relendo Kardec, é possível compreender o quanto a vala que existe entre o bom senso e a estultície é imensa.

O codificador deixou sérios alertas quanto as possíveis ações dos espíritos enganadores, chame-os pseudo-sábios, hipócritas ou presunçosos; e toda a investidura destes para enganar, ludibriar, confundir o espírita em atividade.

Tais comunicadores de má fé, utilizariam palavras bonitas, usariam linguagem rebuscada e manejariam o convencimento sob roupagens atraentes, ou seja, armariam verdadeiras ciladas à espera de um instante de fraqueza.

Será que os espíritas conservadores e direitistas brasileiros, caminharam por uma via alternativa de fascinação?

Foi mesmo impossível não lembrar de Bolsonaro e a visão de um homem no cavalo branco que o apontaria como escolhido, Sergio Moro e uma possível reencarnação de Emannuel, a república arbitrária de Curitiba e o desrespeito à Constituição do nosso país. Foi impossível não lembrar de espíritas ativos nas casas disseminando o ódio pregado nas ruas e palanques, e tudo isso mostra o quanto não foi necessário os espíritos pseudo-sábios investirem na confusão destes espíritas, pois seria algo obsoleto.

Imaginaria Kardec que o equívoco trazida ao seio de um núcleo espírita em um país do tamanho de um continente, poderia ser motivado por questões humanas pontuais e eivadas de senso materialista, e este conglomerado usaria seu próprio nome neste fuzuê que mistura teoria e prática gerando um caldo horrendo de ignorância letal?

Não podemos deixar de analisar este fenômeno e o quanto ainda se sustenta esta ignorância no meio espírita, mesmo um ano depois de vermos o país transformado em pátio de miserabilidade crescente, afetando as humanas histórias de nossa gente e de cada um de nós.

Citar Kardec de maneira esvaziada, levou grande parte dos espíritas brasileiros a se tornarem seus próprios obsessores, vestindo a roupagem dos pseudo-sábios nas reuniões, nas relações, influenciando milhares a seguirem a cegueira que os guia.

Não foi preciso fingir bonomia nem falar galantemente, para encontrar elementos de atração. Bolsonaro imitou arma com a mão e falou porcamente na mídia, agrediu e ameaçou, ainda por cima apresentou um projeto de governo tosco, com uma política econômica punitiva e outras tantas medidas injustas, e tem cumprido à risca o que prometeu; a violência e a desigualdade grassam.

O espírita afinado com a necro-política não percebe o erro histórico que cometeu, o flagelo social imposto às famílias pobres e a todos os trabalhadores, a penalização dos vulneráveis e, principalmente a incoerência da dita “pessoa de bem” que diz defender família e bons costumes, mas, que em verdade se tornou sinônimo de cúmplice do fascismo no Brasil.

O estudo continua se apresentando como caminho mais seguro, mas não pode ser qualquer estudo. Se os espíritas brasileiros se revelaram capazes de fazer leituras de Kardec e apoiar Bolsonaro, nada traria mais evidência de que muitas leituras são feitas sem interpretação justa.

O estudo precisa seguir a razão crítica, e fazer esforço de isenção da carga de juízo de valor herdade das igrejas, a confundir movimento espírita com nicho de moralismo e assepsia social.

Espiritismo é renovação! Assumamos esta assertiva, estudemos mais. Existem grupos que agregam nas redes sociais e direcionam formação, abrem espaços para diálogos produtivos; existem estudiosos espíritas libertários com canais do youtube, dissertando sobre temáticas contemporâneas à luz do Livro dos Espíritos e outras obras de valor, assim como também existem outras vias para se chegar a saberes úteis.

Ser o próprio obsessor não torna o espírita evoluído, mas nos alerta sobre o risco da estagnação em pontos de sombras interiores, que podem existir em todos nós, e somente são superados quando acatamos a luz da razão, do bom senso e do amor que irmana.

Ainda não é o fim da história, mas é a sequência de uma batalha antiga que insiste em ser dual, usando as tarjas do bem e do mal. Contudo, dos erros podemos colher aprendizados, se formos humildes em nossos corações. A história conta com as nossas mãos para remodelar as situações e circunstâncias.

Que o espiritismo brasileiro assuma a candeia e a erga, sem medos nem temores. As sombras não são trazidas pelos agentes externos e apenas esta compreensão pode nos libertar da estagnação na inferioridade.

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