Coaracy Fonseca é promotor de Justiça e ex-procurador Geral de Justiça de Alagoas
A família vivia unida e em harmonia. A lajinha era o único conforto que aquela gente tinha direito, diante da vida atribulada e sofrida.
Na lajinha, os habitantes não sabiam que poderiam cair a qualquer momento, mesmo construída sobre frágil alicerce.
A moradia é um direito social, que precisa avançar em nosso país. É condição para a dignidade.
O programa Minha Casa Minha Vida representou uma grande conquista para os menos favorecidos.
A casa, na era do capitalismo de vigilância, é o único espaço de intimidade do ser humano.
Mas a lajinha ainda serve de lar para milhares de brasileiros, nas periferias das grandes cidades.
A falta de moradias há muito é denunciada pela arte: “Eu não tenho onde morar é por isso que eu moro na areia”, cantou Dorival Caymmi.
É verdade, a lajinha é uma realidade brasileira, constitui para muitos o único bem real, não são poucos os locadores de lajes, que chegam a enriquecer.
A lajinha é um mote para arte, expõe a extrema miséria de um segmento do nosso povo, que precisa ser combatida com programas sociais.
O legislador brasileiro ao invés de destinar recursos à construção de moradias, fez inserir no Código Civil o direito de laje, mesmo com todos os perigos.
O MC Ruanzin não faz parte do meu repertório musical, a linguagem culta não chegou ao seu espaço urbano, mas ele existe e é um poeta. A laginha precisa ser substituída pela casa modesta, com uma “cascata de luz”.
“A deusa da minha rua
Tem os olhos onde a lua
Costuma se embriagar
Nos seus olhos, eu suponho
Que o sol num doirado sonho
Vai claridade buscar”.