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Meu país está crucificado!

Autoria: Paulo Emílio
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Esta Páscoa não me verá  festejar a fabulosa culinária à base de frutos das águas, vegetais, chocolates  e vinhos. Há um recolhimento necessário, para acalentar as dores que o país gerou em corações sensíveis, que se aplicam à religiosidade com forte senso humanitário e não conseguem mais separar uma coisa da outra.

Meu país está crucificado!

Há uma paixão voraz consumindo alegrias, esperanças e ideais! O sofrimento vestido de roxo. A face da ternura coberta.  A poesia de ser feliz aguardando o dia da ressurreição!

O canto abafado da morte em oitenta tons de privilégios, adesões, justificativas vis de quem usurpou o direito de vida a alguém.

Há festejo nos bastidores do poder. Promessas de condecorações a defensor de assassino estatal, porque no meu país, o Estado vestiu os trajes do extermínio.

Muito mais que a cabeça de um Batista, a sanha fratricida quer corpos, mentes, sonhos e oxigênio.

Não há dor maior do que perceber o subcristianismo falacioso na base desta tormenta.

O hades bolsonarista tem plataforma religiosa!

Não há festa no exterior do meu rosto, nesta crucificação de jovens poetas, mulheres libertas, homens que partilham forças coletivas! Não há outro senso possível, senão o recolhimento intenso que cultiva a essência de um amor maior que a dor. Amor raiz da luta intensa, da resistência que pondera, seleciona e pensa.Há tempo certo para o renascimento, haverá outra aurora.

O santificado romantismo que elegeu a cruz como libertação não enverga meu olhar. O madeiro imposto a Jesus foi criminoso, e não me permito hoje celebrar a força de um mundo violento, que crucifica e mata afirmando libertar a vítima.

Na contramão do pensamento imposto, retomo os laços com a terra e as plantas, as criaturas simples e os vôos dos bem-te-vis retratam o perfil do bem-querer divino.

Sem tribunais, sem togas formais, sem arbitrários comensais. A vida é um veste e despe de corpos libertos. O amor enfeita as transições, nas chegadas e partidas há objetivo próprio. Assim comungo espiritualmente dos perdões de Jesus a este povo que o louva nos ritos e o crucifica no cotidiano, porque onde estão os menores é lá que está Jesus.

Nos perdoando. Está Jesus, nos aguardando.

Outra vez errando. Estamos nós,  ainda maturando.

 

 

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