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Pelo sangue do meu filho, Novembro é resistência

Quando chega o mês de novembro, meus músculos ficam mais rígidos, meus olhos se distanciam e sem planejar mergulho no silêncio profundo, onde a saudade guarda um abraço.

Um doloroso processo se renova, porque a gente não deve esquecer a dor a nenhum custo. Assim me faço mãe, me faço luto. E luto!

Lembrar a dor preserva a humanidade, o senso de pertença à mortalidade, e isso me tira medos.

Foi na provação do assassinato que as teorias humanistas de antes serviram de base para a sobrevivência. Recusei ser ferida pela maledicência!

Foi nas mortes subsequentes, nos relatos dos mal intencionados e na balbúrdia dos incautos que aprendi enxergar auras. Filtrar vibrações de almas afins!

Calar alguém que conheceu a dor mais temida dessa vida, não vai lograr acontecer em mim.

No micro universo de uma violência imposta a um núcleo familiar, está o macro.

Aprendi o quanto autoridades mentem parecendo falar verdade, e recusei cada naco de responsabilidade imputado à vítima. O esquema espúrio troca apenas de circunstâncias.

Eu defendo a vida. Me sustento mulher, cuidando de falar palavras bonitas para ninar o alheio, aleatoriamente eu cuido de apaziguar angústias sem resposta, sentindo desejo de poesia.

A feiura da violência busca intimidar e canto o encanto de não me curvar.

Novembro me enconcha, ensimesma na dor, e a indignação se fortalece. O covarde não assusta, não vence, não cresce. O céu é um vazio que meus olhos preenchem de saudades e esperanças.

Pelas crianças, eu enfeito o silêncio de quereres!

Pelos meus ancestrais guerreiros, anônimos, sob os ventos da exploração e ousadia. Pelos corpos expostos, pelos gritos depostos, pelo olhar castanho claro do meu filho. Eu escrevo!

Se tem uma bagagem que eu não quero levar é o temor que os outros me endereçam.

Novembro apenas me lembra que um grito como aquele na madrugada largado, não poderá jamais ser calado e se chama resistência!

 

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