Cachoeira pode não depor na CPI

O depoimento de Carlinhos Cachoeira está marcado para o próximo dia 15. Bastos considerou que um adiamento seria "prudente"

Terra

O advogado Márcio Thomaz Bastos, que defende o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, pediu nesta segunda-feira ao presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), acesso a todos os documentos recebidos pela comissão. De acordo com Bastos, caso não tenha em mãos os processos da acusação, o seu cliente pode não depor ou permanecer calado durante o depoimento.

“Eu estive com o presidente (Vital do Rêgo) pedindo a ele que nós tivéssemos vista de todos os elementos que existem na CPMI, sem os quais o nosso cliente não pode depor”, disse o advogado.

O depoimento de Carlinhos Cachoeira está marcado para o próximo dia 15. Bastos considerou que um adiamento seria “prudente”. “Seria prudente, não um grande adiamento, mas um adiamento para que a gente tivesse acesso a tudo que a CPMI tem”, disse o advogado, que reclamou da divulgação de informações das operações Vegas e Monte Carlo pela imprensa.

“Vocês (jornalistas) têm muito mais do que eu tenho. Toda a imprensa tem, está saindo fragmentado, descontextualizado, de modo que a gente não teve ainda oportunidade de defesa”, disse.

Na Justiça, Cachoeira aguarda uma decisão do Superior Tribunal de Justiça sobre habeas-corpus, anteriormente negado pelo Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região.

Bastos informou ainda que entrou hoje no TFR com mais um pedido de habeas-corpus para anular as interceptações telefônicas que servem como provas nas operações Vegas e Monte Carlo, e que estão agora sob análise da Justiça.

Carlinhos Cachoeira 
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

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