Violência, segundo imaginam os sete anões

As vítimas não estão nos lugares errados nem nas horas erradas

Odilon Rios
reporternordeste.com.br

Alguns desacertos nos permitem ver a violência desta forma:

Flávius Lessa. Assassinado. Porque estava no local errado e na hora errada.

Giovanna Tenório. Asssassinada. Porque se relacionou com a pessoa errada e estava em local errado.

Denilson Leite da Silva. Assassinado. Porque estava com a pessoa errada, em local errado.

Maria de Lourdes Farias de Melo. Asssassinada, esquartejada. Porque denunciou o tráfico e estava em casa- portanto, lugar errado e na hora errada.

Os casos de violência em Alagoas parecem ter se transformado em uma sucessão de casos isolados- e unidos transformaram o Estado em uma das piores regiões do mundo para alguém viver.

Mas, acima dos moralismos dos lugares “certos” ou errados”, estão as declarações- precipitadas, por sinal, de integrantes do Governo.

Afinal, admitir a violência mas pedir correção de números minúsculos- sobre processos- expostos na reportagem da TV Globo sobre a onda de assassinatos no Estado, não parece ser uma atitude de alguém exatamente disposto a discutir ou superar um problema- neste caso, a violência.

Ou se acredita blindado pela ação do mundo do crime.

Quando o quarto vereador mais votado de Maceió, Luiz Pedro da Silva, é acusado e chefiar um grupo de extermínio na parte alta da capital e permanece na função pública, algo não deve estar funcionando na maquinaria estatal.

Ou quando o “foragido” deputado João Beltrão- acusado de dois assassinatos e que vai assumir a função pública em agosto- permanece à margem das leis e exatamente na condição que está- um foragido- não se trata exatamente de uma coincidência (mais condescendência). E, por estar em Alagoas, talvez as coincidências deixem de permanecer no campo das conjurações mágicas.

A violência em Alagoas não é uma questão nacional. Nem pontual. Afinal, o segundo menor do Estado do Brasil não alcançou a fama de mais violento por uma coincidência. Ou simplesmente de vítimas que escolheram estar em “lugares errados nas horas erradas”.

Três planos de segurança depois e uma crise sem fim na área de segurança pública podem descrever um quadro bastante diferente daquele que se insiste em pintar.

De modo geral- e pelo menos na maior parte dos casos acima relatados- a vítima não é a culpada pelos crimes.

Talvez porque nestas terras do lado de cá do São Francisco o crime seja uma peça perfeita. Inacreditável demais para ser inventada por qualquer um dos sete anões.

.