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Vendendo meu Voto em Alagoas

Luiz Eduardo Simões de Souza- Historiador Econômico

Há quem faça pelo preço de tabela: cento e cinquenta reais. Metade antes, metade depois da eleição. O cabo eleitoral recebe o dobro, por cabeça, como quem vende gado. Degradante.

Mas há quem venda seu voto por um cargo público, mantido, criado, ou a ele alçado. Por esse expediente, contratam-se não apenas quadros, mas consciências e até justificativas, bem como as mentiras mais lindamente embaladas para enganar os inocentes, aqueles que nada ganham com Zico ou Penico na chefia do condomínio de interesses da burguesia, como diriam uns alemães folgados do século XIX, que nunca colocaram sua caneta – ou o silêncio dela – à venda.

Pois eu estou colocando meu voto à venda, descaradamente. E para quem quiser pagar o preço. Ainda convenço meia dúzia e até faço campanha. Não quero um centavo, nem cargo público. Já sou servidor público, e ganho o suficiente para uma vida honesta e tranquila.

Quero mais do que isso, caro candidato. Vendo meu voto pelo simples compromisso de que, por todo o seu mandato, você terá como norte de suas ações a desconcentração da posse de terra no Estado de Alagoas. Assuma publicamente esse compromisso, negando qualquer acordo ou conchavo com os interesses de usineiros ou latifundiários e meu voto será seu.

Não precisa pagar ninguém para escrever um calhamaço de firulas que não resolvem a questão central do subdesenvolvimento alagoano. Basta não se curvar aos interesses de latifundiários e usineiros. Revise a dívida do Estado, faça eles pagarem o que devem. Ensine a eles que o risco é inerente ao Capitalismo, e se eles querem ser capitalistas, que aprendam a conviver com a possibilidade de dar com os jegues n’água sem que o Estado venha lhes socorrer os fundilhos em chamas. Na verdade, nem precisa dizer isso tudo. Basta não beijar tão avidamente tais fundilhos. Coloque sua palavra no papel, registrada no vídeo ou no áudio e considere o trato feito.

Aos mais espertinhos, que já estejam pensando em prometer sem cumprir, lembro que a palavra é a base da reputação. Há exemplos não muito distantes da orla de pessoas que não podem mais ouvir o eco de sua própria voz. Não queiram a vida dessas pessoas para si.

O preço está dado. Vamos ver quem se habilita.

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