Valor Econômico: Renan e Collor ‘grudam’ em JHC

Pré-candidatos a eleições majoritárias em Alagoas e veteranos na política, o presidente do Congresso Nacional, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador Fernando Collor (PTB-AL), aproveitaram o recesso para colar suas imagens em um jovem deputado estadual alagoano de primeiro mandato com forte discurso moralizador.

Trata-se de João Henrique Caldas (PTN), 25 anos. No fim de junho, ele obteve na Justiça Federal o direito de acessar a movimentação financeira da Assembleia Legislativa de Alagoas na atual legislatura. Notou que mais de 90% dela era comprometida com pagamento de pessoal e havia saques feitos na Caixa da ordem de R$ 4,7 milhões, sem demonstração de seu destino. Os documentos que obteve mostraram, por exemplo, a existência de servidores recebendo mais de 20 salários por ano.

Desde então, Caldas dominou o noticiário político local, com mais uma denúncia contra a Mesa Diretora da Casa, comandada pelo presidente Fernando Toledo (PSDB) e pelo segundo-secretário Marcelo Victor (PTB). “Há um orçamento paralelo na Casa com base em gratificações que aumentam a remuneração de servidores em até 600%”, disse. Segundo ele, seu partido é independente em relação ao governo do Estado, embora o tenha apoiado nas eleições de 2010.

Suas denúncias, porém, nunca encontraram respaldo na classe política. Até junho. Tão logo desembarcou em Maceió, Renan deu declarações de apoio a Caldas e pediu investigações. Foi o primeiro político do Estado a fazer isso. “Nada pode ficar sem resposta, inclusive as denúncias do deputado João Henrique Caldas sobre a Assembleia Legislativa. O brasileiro quer saber como está sendo aplicado cada centavo. O PMDB apoia que haja maior esclarecimento”.

Depois, foi a vez de Collor se manifestar. “A iniciativa do deputado merece o apoio da sociedade, porque a busca da transparência é um clamor presente nas ruas. Se há crime nesse turbilhão de denúncias que o jovem deputado tornou público, então que se investigue a fundo. Proponho uma força-tarefa da OAB de Alagoas, dos Ministérios Públicos, do Tribunal de Contas, da CUT e do movimento de Combate à Corrupção de Alagoas, para jogar luz e passar tudo a limpo.”

O gesto de ambos decorre da incerteza com que o cenário político estadual foi jogado após as manifestações de junho. Ao contrário de outros Estados, em que nomes novos são ventilados, em Alagoas todos são velhos conhecidos do eleitorado. Além de Renan, 57 anos, estão colocados ainda os senadores Benedito de Lira (PP), 71 anos; e o vice-governador José Thomaz Nonô (DEM), 66 anos. Para o Senado, devem concorrer Collor, 63 anos; o governador Teotonio Vilela (PSDB), 62 anos; e a vereadora Heloisa Helena (PSOL), 51 anos.

O cenário político, porém, só deve estar mais claro em 2014, com a definição de Vilela sobre o que fará. Se ele deixar o cargo para se candidatar ao Senado, Nonô assume e pode ser seu candidato à sucessão. Se ele ficar no cargo, a tendência é que apoie Lira, que reivindica sua adesão. Lira é da base tanto do governo federal, do PT, quanto da estadual, do PSDB. Uma outra opção é Vilela sair ao Senado e fechar acordo para que Lira seja seu candidato.

Uma pesquisa do Ibope feita entre os dias 7 e 10 de junho – antes, portanto, do auge das manifestações – colocava Renan na liderança folgada com 43%, seguido por Lira, com 25%; e por Nonô, com 11%. Ninguém no Estado arrisca que o cenário de agora seja o mesmo.

Por essa razão, questionado em Maceió se seria candidato, Renan desconversou. Disse que daria uma sinalização em março ou abril, mas garantiu que seu partido lançará um nome. Citou três que se enquadrariam, de alguma forma, no perfil de novidade: o ex-prefeito de Arapiraca, Luciano Barbosa; o médico e ex-vice-governador José Wanderley Neto e o deputado federal Renan Filho, seu filho.

Fonte: Valor Econômico

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