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Usineiros encerram ano com dívidas de R$ 50 bi

A indústria de cana-de-açúcar do Centro-Sul do Brasil deve encerrar o ciclo 2012/13 com dívidas entre R$ 54 bilhões e R$ 56 bilhões, conforme levantamento feito pelo Itau BBA. O montante é pelo menos 4% superior ao endividamento registrado ao fim do ciclo passado, entre R$ 50 bilhões a R$ 52 bilhões. O crescimento pode ser explicado pelos altos investimentos feitos em renovação de canaviais, estimados em R$ 6,6 bilhões. Além disso, os preços mais baixos do açúcar e do etanol trouxeram uma menor geração de caixa às usinas.

Outros fatores ajudam a explicar o quadro de maior endividamento, afirma o diretor comercial do banco de investimento, Alexandre Figliolino. Entre eles, a desvalorização cambial que afetou a dívida em dólar que caracteriza uma parte do passivo dessas empresas. Ele disse que é preciso considerar ainda que houve nos últimos meses do ano uma certa antecipação de investimentos, atraídos com os programas de financiamento de máquinas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que ofereceu taxas de juros de 2,5% ao ano.

O fato é que o endividamento está muito próximo de superar o faturamento das empresas. Conforme levantamento da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) feito com base nos balanços financeiros publicados por usinas que representam 45% da moagem do Centro-Sul, o endividamento bruto equivaleu em 2011/12 a 93% do faturamento líquido das empresas, aumento de 4 pontos percentuais em relação a 2010/11. Essa relação para a safra 2012/13 só será conhecida ao longo do ano de 2013, com a publicação dos resultados financeiros da atual safra. Mas o diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, adiantou que a tendência é de piora do indicador.

“Em torno de 20% desse setor não consegue gerar caixa para manter a operação. Potencialmente, são as mesmas que devem parar de funcionar nos próximos anos se não houver uma mudança na rentabilidade do etanol”, disse Padua. Ele acrescenta que há confirmação de que seis empresas vão deixar de processar cana na safra 2013/14.

A maior parte dos R$ 6,6 bilhões usados para renovar e expandir 1,3 milhão de hectares teve como fontes recursos próprios das usinas e linhas de empréstimo tradicionais. Nos cálculos da Unica, apenas 35% (ou R$ 1,4 bilhão) dos R$ 4 bilhões disponibilizados no crédito especial do BNDES para renovação de canaviais (ProRenova) foram contratados até agora pelo setor. Ele disse, porém, que as usinas que já realizaram o investimento ainda podem, mediante comprovação de que fizeram a renovação, acessar a linha do BNDES.

Mas o esforço ainda não se refletiu em aumento do retorno. Apesar de a moagem de cana-de-açúcar em todo o Brasil estar prevista para crescer 30 milhões de toneladas na atual safra, o faturamento das usinas deve permanecer praticamente estável. A estimativa da Unica é de receita em 2012/13 de R$ 73,12 bilhões, 0,3% acima dos R$ 72,9 bilhões registrados no ciclo anterior, o 2011/12.

Isso porque os preços do açúcar e do etanol estão mais baixos. Em São Paulo, maior Estado canavieiro do país, a receita média com a venda de açúcar de maio a novembro alcançou R$ 118,70 por tonelada de cana, queda de 3,95% em relação aos R$ 123,59 verificados em 2011/12. Já a receita com etanol no período totalizou R$ 92,18 por tonelada, 10,34% menor em igual comparação.

Em sua primeira entrevista desde que assumiu a presidência da Unica, há menos de um mês, Elizabeth Farina, reiterou a importância de garantir uma boa interlocução com o governo. “O comportamento dos investimentos responde por grande parte do insucesso do nosso Produto Interno Bruto em 2012. Mas os empresários precisam de mais estabilidade, de um marco regulatório para investir”, afirmou Elizabeth.

Além de revisar para 34,05 milhões de toneladas a produção de açúcar na safra 2012/13, a Unica também estimou que a moagem de cana em 2013/14 deve alcançar 580 milhões de toneladas.

As informações são do Valor Econômico

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