Vinte e um adolescentes fugiram da Unidade de Internação de Menores. Este ano, foram 60.
Doze dias antes, a 1ª Vara da Infância fez uma inspeção: descobriu que faltam janelas, os banheiros estão danificados, a fossa está estourada, não há extintores de incêndio, existem escorpiões, ratos, baratas, mosquitos da dengue.
Concluiu o juiz da Vara da Infância, Ney Alcântara: o local é insalubre.
Explicou a Defensoria Pública: nenhum animal, muito menos gente, merecia estar ali.
O juiz interditou a Unidade de Menores. Novos internamentos estão proibidos.
Mandou o recado ao governador Renan Filho (PMDB): ele tem 48 horas para remover os adolescentes.
A fuga dos 21 jovens denunciou o caos da Unidade. Um caos que não é da era Renan Filho. Vem desde os oito anos de Ronaldo Lessa, varou os oito anos da gestão Teotonio Vilela Filho e, agora, chegou a Renan.
Mas, há uma coincidência: nos dois governos anteriores, houve rebeliões. Lessa assistiu, pela TV, adolescentes serem degolados e as cabeças jogadas para o lado de fora da UIM.
Renan Filho é um governador de conciliação. Ainda que sua equipe ficasse atrapalhada na reação aos grevistas da Polícia Civil.
Nas unidades de menores, porém, o governador repete o script dos outros estados: o encarceramento de jovens infratores, que é uma bomba de efeito retardado.
Ao sair da jaula, a fera devora a sociedade.
Jovens infratores não são mais a “semente do amanhã”.
Transformaram-se em potenciais criminosos, repetirão a lógica do crime, serão mão de obra desqualificada do tráfico até serem eliminados- antes arrasando o destino de quem estiver pela frente.
E assim seguirão enquanto o Governo não construir uma política de Estado nas unidades, onde operem profissionais de saúde, assistência social, educadores.
Jovens infratores enjaulados serão, um dia, soltos.
O país não tem pena de morte. Ela existiu na Colônia. E matava pretos, pobres e bruxas.
No Brasil que mais mata no mundo, o extermínio é a apologia ao fracasso do Estado.
Um Estado com ares de Leviatã: centralizador, cruel.
E violento.
A menos que Renan Filho queira a guerra de todos contra todos.
Daí o monstro será a alma de cada um.
E seus infernos de rebeliões e ódios…