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União dos Palmares em livro e memórias

Representando o Coletivo Mulheres que Escrevem, do qual a jornalista e escritora palmarina Olivia de Cássia Correia de Cerqueira foi membro-fundadora no ano de 2019, essa blogueira e outras parceiras de letras, precisamente Alessandra Buarque de Aráujo, Simone Patriota e Ângela Santos, celebramos mais uma conquista da companheira Olivia, desta vez, partilhada com seu irmão, Petrúcio Manoel Correia de Cerqueira.

O livro Antes que seja tarde, é a quinta obra da escritora, e a primeira do seu irmão.

No roteiro, o manejo jornalístico adaptado ao relato ficcional, gerando uma possibilidade de gêneros literários híbridos, dentre os quais a crônica arrasta o olhar da pessoa leitora, para se entender na história, a partir de União dos Palmares, terra na qual fui concebida, e de onde vem o DNA paterno, devolvido em 2016 ao campo santo da fazenda Sueca.

Segundo Marina Colasanti, em seu livro A casa das palavras, ” a crônica corre em pista pesada porque lida ao mesmo tempo com as coisas mais ásperas, como economia e política, as mais dramáticas, como guerras, violências, tragédias, e as mais poéticas, como um momento de beleza ou uma reflexão sobre a vida”.

O livro que parece fino em quantidade de páginas, é grosso em memórias e conteúdo, provando que a escrita constante amadurece o escrevinhador e faz elástica a sua voz.

A Rua da Ponte, retratada no livro, também religa minhas memórias afetivas com a terra de Maria Bento e Elias Marinho, meus avós. Após o retorno do marido ao mundo das liberdades espirituais, minha avó passou a habitar naquela rua vizinha ao Mundaú, e quando vieram as grandes águas ela estava lá, tendo sido retirada de casa pelo quintal, onde uma barreira dava acesso à casa do filho mais novo, meu tio Ivo.

A Rua da Ponte, após a reconstrução de algumas moradas, e a persistências dos tijolos e vigas que seguraram a casa da minha avó, foi também o lugar que velou o corpo do meu pai em uma noite de luar, naquele 14 de outubro, quando a luz vinda do céu abria clarão entre o rio e a silhueta da Serra da Barriga, tornando poética a última noite da matéria que animou um dos meus grandes amores sobre a terra.

No livro Antes que seja tarde, a Rua da Ponte transita como um elo.

” Maria José percebeu o quanto a mãe e Rosa Maria lutaram pela família. Ela pensa com saudade na Rua da Ponte, onde nasceram ela e os irmãos e viveram tanto tempo, e nos amigos de infância, que já se dispersaram. Agora, as irmãs não moram mais na Rua da Ponte, que foi levada totalmente pelas águas do rio Mundaú, transformando tudo e deixando apenas lembranças.”

De lembranças se fazem as histórias, de relatos orais e escritos se perpetuam memórias. Assim nos humanizamos em defeitos e qualidades, erros e acertos, provando que viver é não se isentar de existir, participar, mesclar culturas e sonhos, eternizando nossos lugares sem disputas, nem exílios.

A humanidade é nossa casa.

Parabenizamos aos escritores pela obra.

SOBRE O AUTOR

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