Um mês antes de ser preso, Cachoeira sabia até nome da operação da PF

Em conversas gravadas durante a investigação do esquema de exploração de jogos ilegais de Carlinhos Cachoeira, divulgada nesta sexta-feira peloJornal Nacional, o bicheiro aciona informantes para descobrir se é investigado. Quase um mês antes de ser preso, ele pede informações ao delegado da Polícia Federal Fernando Byron, que também foi preso. “Tem um processo lá na 11ª Vara (Federal de Goiás). Até o nome da operação já tem. É operação Monte Carlo. O que você acha?”, pergunta o contraventor. “Décima primeira é especializada, né? Então é lavagem de dinheiro e desse negócio todo, mas não tem nada com a gente, não”, diz o delegado.

As informações são do Terra.

Cachoeira recebeu as primeiras informações sobre o inquérito, então na mão do juiz Paulo Augusto Moreira Lima – que deixou o caso esta semana, após relatar ameaças -, do sócio José Olímpio Queiroga Neto, no início de fevereiro. “Que está lá o processo, isso é certeza como dois e dois são quatro. Não tem dúvida. Está lá com aquele vagabundo lá mesmo”, diz. Cachoeira pergunta se o juiz já decretou alguma prisão, ao que o sócio nega, acrescentando que o juiz analisava o caso. O contraventor, no entanto, não conseguiu confirmar se figurava entre os investigados. Cerca de 20 dias antes de ser preso, ele diz ter recebido um documento, classificado em uma escuta como certidão, e avisa Queiroga Neto de que não há nada contra o grupo.

Carlinhos Cachoeira 
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

.