Um golpe de Estado em curso

João Marcos Carvalho

Não é preciso ser cientista político para enxergar o que está para acontecer no Brasil, entre hoje e outubro de 2022, caso as forças progressistas não se unam para desarmar o artefato explosivo que está colocado no colo da Democracia e pronto para ser detonado pelos neofascistas que governam o País assim que forem derrotados nas urnas.

Caso Lula vença a eleição (o que parece provável), a corja golpista, comandada pelo miliciano-mor e sustentada pelo Partido Militar – agremiação que não tem votos mas tem armas – não permitirá a posse do eleito.

Esse veto à vontade popular não é novidade entre os fardados. Casos semelhantes já ocorreram em profusão nos últimos 66 anos.

Em 1955, o vitorioso Juscelino Kubitscheck foi vetado pela oposição raivosa (composta por militares e civis), que só não conseguiu seu intento por ter sido emparedada pela espada legalista do general Teixeira Lott, ação impositiva que permitiu que o escolhido pelo povo assumisse o cargo.

Em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros, Jango, o vice legítimo, foi impedido de ocupar o lugar que lhe era de direito como sucessor do renunciante.

Não fosse a resistência de Leonel Brizola, então governador do RS, aliado à fração democrática das Forças Armadas, a ditadura teria sido implantada ainda naquele ano.

Em 1964, com o financiamento, o aval e o apoio militar dos EUA, o golpe se concretiza, estabelecendo um estado policial que durou 21 longos anos.

Quem imaginava que a redemocratização de 1985 fosse consolidar a Democracia se enganou redondamente.

Os militares, mesmo recolhidos às casernas, jamais deixaram de alimentar o sonho de voltar a tutelar o povo brasileiro, e essa oportunidade chegou em 2018 com Bolsonaro, um candidato a ditador que “caiu do céu” que acabou tornando factível o processo de retomada do poder pelos brucutus saudosos de ditaduras.

E é neste contexto sombrio que caminhamos, agora, em direção a tempos tenebrosos, já que não temos mais Lotts, Brizolas ou militares legalistas a respaldar a luta contra a subversão em marcha.

Nesse sentido, a cooptação das forças militares e policiais pelos golpistas de plantão, somado ao escândalo do Caso Pazuello, quando o Exército se dispôs a rasgar seu próprio Regulamento Disciplinar para amparar um ato de insubordinação inaceitável de um tosco “Sargento Pincel” – que cumpre o desonroso papel de guarda-costas de um déspota de porta de cadeia – demonstra claramente que a bomba relógio tem dia e hora para explodir.

E nesta triste quadra, onde o luto pelas vítimas da Covid 19 se mistura ao cheiro acre de um golpe de estado em curso, cabe às forças de oposição se unirem num bloco sólido para, desta forma, concentrar energia no desarme da bomba cujo tic-tac já pode ser ouvido em alto e bom som em todos os becos e vielas desta terra em transe.

(João Marcos Carvalho).

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