Um dia eu também fui racista

Alain Oliveira

Um dia fui racista quando proferi um xingamento a um colega de classe me baseando em sua cor. Lembro que fiz aquilo para me livrar do bullying que estava sofrendo naquele momento, mas logo percebi que aquele não era o caminho. Me arrependi, mesmo sem entender direito. Estávamos na terceira série e isso nunca saiu da minha cabeça. Também fui todas as vezes que disse que queria ter a cor da minha mãe. De alguma maneira a sociedade me dizia que era melhor e de maneira direta ela me dizia: “Deus lhe fez assim e você é lindo” – as mães mentem.(rsrs)
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Ninguém nasce descontruido, pelo contrário, nascemos no meio de uma construção social onde a base é preconceituosa e racista.
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Mudei. Mas não foi quando tentei ouvir rock (nada contra, apenas experiência diferente), como quase todo adolescente faz, tentei e não fui tão longe. Gostava de hard core, mas algo não permitia que eu me identificasse totalmente. Identificação mesmo veio com o MV Bill e Edson Gomes, eles tinham a mesma cor que eu e falavam o que eu percebia olhando pela minha janela.
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Na minha infância na igreja até início da idade adulta eu nunca vi ninguém falar sobre isso. Mas todos e todas se perguntados saberiam citar “I have a dream” famosa frase de King.
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Precisou eu entrar para o curso de Teologia e então conhecer meu amigo @joel.raphael que fazia essa discussão desde as CEBS em seu tempo de ICAR, tendo sido um dos fundadores da @pastoraldanegritude quando se tornou protestante. Ele passou a me inspirar. E eu me aproximei da pastoral, guardando com muito carinho o dia 20 de novembro de 2017, quando pude levar uma reflexão na IBP, sobre o extermínio da juventude negra. Tamanha responsabilidade diante de Deus e de todos e todas que já caminhavam por essa trilha há bem mais tempo.
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Hoje falo sobre racismo onde chego. Há poucos dias parecia um louco falando para o vento, como contei ao meu amigo @ewerthonbrs. Hoje também caminho acompanhando mais de perto o trabalho do @inegalagoas e lendo uma diversidade de temas ligados a negritude. Sou grato por isso.
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Tenho um compromisso com a próxima geração e a partir do meu filho Pedro quero ensinar que não se tolera racismo e pra isso começo não me calando.

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