Truculência das botinas e uma ação da Corregedoria da PM de Alagoas

Se é verdade que o progresso humano é resultado do trabalho humano- e que essa capacidade humana modifica o mundo que o cerca- é verdade também há elos desta corrente que não funcionam- e comprometem as condições de humanização

O mundo pode ter se transformado, mas, na Argentina, as lições sobre justiça (não justiçamento) são atuais, quando comparadas à Lei da Anistia brasileira, pós-ditadura.

Lá, como aqui, a truculência das botinas marchou pelo País. Mas lá, diferente daqui, o regime acabou e os militares foram julgados pelos seus crimes.

Se é verdade que o progresso humano é resultado do trabalho humano- e que essa capacidade humana modifica o mundo que o cerca- é verdade também há elos desta corrente que não funcionam- e comprometem as condições de humanização.

Na Argentina, atuou a Justiça (não o justiçamento) contra os militares criminosos. No Brasil, como o passado foi enterrado por um acordo de gaveta, a violência brutal da banda podre das polícias encontra seus ecos na Lei da Anistia.

A Corregedoria da Polícia Militar cercou companheiros meus, de profissão, para que, se localizado fosse, explicasse o conteúdo de uma matéria escrita em outubro, sobre a ação de um policial militar, da reserva, que tem um grupo de extermínio no conjunto Graciliano Ramos.

Ligando para o corregedor, pediu-me que eu revelasse as fontes da informação. Um líder comunitário foi chamado a falar do assunto. Como a PM de Alagoas não é conhecida pelos seus méritos, o líder naturalmente responsabilizou o repórter.

Queria- a Corregedoria da PM- que eu atestasse, por termo, as declarações dadas. Teria dez dias para apresentá-las. Não as fiz. Como repórter, se houve condições de se investigar a atuação da banda podre da polícia, no Graciliano Ramos, a polícia- e seu serviço de inteligência- conseguiriam o mesmo.

“Uma acusação tão séria para a corporação deve ser provada”, disse-me o corregedor. O caráter espantadiço dos moradores fala por si só.

É provável que a ação tenha sido arquivada; assim como outra- em que PMs pararam uma viatura, na faixa para deficientes físicos, no supermercado Extra- para compras. Desconheço punição aos militares.

Se falta Justiça (não justiçamento) para se coibir a ação de PMs criminosos, que tem grupos de extermínio na área periférica da capital, em quem podemos confiar, senão na Corregedoria da PM? A atualidade do passado é bastante presente: o próprio corregedor nacional do CNJ, Gilmar Mendes- ao falar das corregedorias do próprio poder- chamou-as de “incapazes” para atuar contra magistrados.

Cada crime arquivado pela Corregedoria da PM de Alagoas é uma assinatura em uma declaração tão contundente, do sempre conservador Gilmar Mendes.

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