Repórter Nordeste

Tropas de Assad avançam sobre Aleppo

O Globo

Com pelo menos 50 tanques, caças e artilharia pesada, o Exército sírio avançou no início da manhã de ontem sobre a cidade de Aleppo, no que seria o início da maior ofensiva já registrada no conflito. Ativistas e moradores informaram que os rebeldes estariam fazendo frente ao ataque, tendo, inclusive, destruído alguns tanques. Especialistas, no entanto, temem um massacre, uma vez que as tropas do governo são muito mais numerosas do que a dos opositores.

– Podemos dizer que a ofensiva começou – afirmou o presidente do Observatório Sírio de Direitos Humanos, Rami Abdel Rahman. – Os combates mais violentos desde o início da rebelião acontecem em vários bairros.

De acordo com moradores de Aleppo, os ataques começaram de madrugada, por volta das 5h, com helicópteros e até mesmo aviões de guerra, como o MIG 21 russo, sobrevoando a cidade. Bombardeios se seguiram durante horas, muito mais pesados do que os de dias anteriores.

– Foram explosões muito fortes – contou um morador que não quis se identificar por medo de retaliações ao “The New York Times”, por telefone. – Três ou quatro bombas ao mesmo tempo. Os que não conseguiram sair da cidade estão se escondendo nos pavimentos mais baixos das construções. Outros foram buscar abrigo em escolas e mesquitas.

Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, baseado no Reino Unido, pelo menos dois soldados rebeldes e dez do governo teriam sido mortos nos primeiros conflitos, no bairro de Salaheddiin. O enviado especial da rede BBC a Aleppo, Ian Pannell, fala em pelo menos 14 mortos nas primeiras horas do confronto.

“Carros e caminhões repletos de famílias seguem para o campo, todos temem um massacre”, escreveu Pannell. “Ambos os lados estão determinados a controlar o local, mas o esmagador poder de fogo pertence aos homens do presidente Bashar al-Assad, que parecem estar preparados para usá-lo na retomada de Aleppo.”

Em sua página no Facebook, os rebeldes confirmaram os enfrentamentos e bombardeios, além da destruição de oito tanques do regime, na operação que os sírios estão chamando de “a mãe de todas as batalhas”. Pelo menos seis distritos estão sob os ataques mais pesados, segundo opositores. Com 2,5 milhões de habitantes, Aleppo é a cidade mais populosa e capital financeira da Síria.

“O Exército Sírio Livre está bem equipado e situado estrategicamente em Aleppo. Além disso, os reforços governamentais que tentavam chegar a cidade foram barrados no caminho por rebeldes”, enfatizou um comunicado da Comissão Geral da Revolução.

Na sexta-feira, a comissária de direitos humanos das Nações Unidas, Navi Pillay, alertara para um “confronto iminente” em Aleppo. Ela acusou o regime de Bashar al-Assad de arrasar cidades controladas pela oposição sem levar em conta os civis, com base em relatórios recebidos sobre “atrocidades” cometidas nos subúrbios de Damasco. Segundo os relatos, o Exército sírio tem seguido um mesmo padrão: cerca as cidades a serem atacadas, corta a eletricidade e o suprimento de água e alimentos, para então bombardeá-las.

– Os tanques, então, avançam, seguidos de tropas que vão de porta em porta e, segundo testemunhas, executam sumariamente pessoas suspeitas de apoiarem os rebeldes – afirmou.

Navi Pillay disse ainda ter recebido relatórios de atrocidades cometidas também pelos rebeldes, que incluíriam tortura e execução de prisioneiros. A comissária da ONU teme que a população civil de Aleppo fique cercada entre as duas forças.

O Crescente Vermelho sírio anunciou que estava suspendendo “certas operações” na cidade por conta do aumento da violência.

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