TRE de Alagoas apura 'mensalinho' em troca de votos

O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) começou a julgar os primeiros casos de compras de votos em Alagoas. Um deles chocou o procurador regional eleitoral, Rodrigo Tenório: um mensalinho pago a várias famílias no interior de Alagoas.

O material está sob investigação. Nem nomes nem detalhes foram adiantados pelo procurador.

“É o caso mais chocante que eu vi. É um pagamento mensal, um mensalinho, na época variava entre R$ 30 e R$ 50. Diversas pessoas recebiam o dinheiro”, disse. Perguntado se o valor não era pouco, Rodrigo Tenório explicou o contexto: Não é pouco porque depende do grau de miséria da população. Quanto mais pobre o lugar, mais frágil a democracia”, disse o procurador.

“A imaginação para a compra de votos é absolutamente ilimitada”, disse.

E ao longo das duas últimas semanas, o EXTRA pode comprovar situações, na periferia, que mostram que a compra de votos é aberta. Praticamente escancarada.

No Canaã, Santo Amaro e Ouro Preto, por exemplo, o voto é vendido em troca de R$ 50 ou uma “cervejinha”. Vale ainda a compra do piso e reforma da casa.

Entre lideranças comunitárias, vender o voto também exige sofisticação, sempre bem paga. O custo do voto, entre alguns líderes corruptos, varia de um carro 0 quilômetro até um cargo na Câmara de Vereadores. Primeiro, vem o carro. Após a eleição, o cargo no Legislativo Municipal.

Outros eleitores são mais exigentes: pedem ingressos para jogos, no estádio Rei Pelé, entre CSA e CRB.

Na parte alta, alguns líderes chegam a reunir 800 votantes- uma fortuna para qualquer postulante a cargo público.

Na Grota do Rafael, chama a atenção não os valores das lideranças comunitárias, que dizem trabalhar “de graça” para os políticos. Mas, o que os eleitores pedem também chama a atenção: voto em troca de drogas- como o crack (noia) ou a maconha.

“Não me surpreende. Tenho absoluta clareza que isso acontece. O grande problema da compra de voto é como o do crack. É impossível a onipresença dos órgãos públicos. Quem teria este poder de onipresença é o eleitor”, disse o procurador Rodrigo Tenório.

“Por mais pessoas que a gente coloque, o combate à corrupção eleitoral só funcionará quando partir do eleitor. Ai sim. Quando o risco para aquele que compra for elevado”, explica.

Segundo o procurador, há canais para o eleitor denunciar a compra de votos- como no site do TRE ou até mesmo a sede da Polícia Federal.

Mas, o eleitor precisa oferecer a maior quantidade possível de detalhes. Se possível, gravar a ação. Ou dizer a hora, o local, os lugares onde são feitas as reuniões.

“Não adianta dizer para a gente: eu vi Fulano comprando voto, só isso? A pessoa sequer se responsabiliza pela informação, não assina nada, não quer prestar termo de declaração”, disse o procurador.

Só que, no Brasil, o histórico de punição para pessoas envolvidas em crime de colarinho branco- um deles, a compra de votos- “é desestimulante”- conforme cita o integrante do Ministério Público Eleitoral.

“O histórico de punição para crimes de colarinho branco no Brasil é desestimulante. Tem gente presa no Brasil pelo crime, mas provisoriamente. Colarinho branco não é um crime, mas um conjunto de crimes, envolve violência, as práticas sórdidas”.

“Mas, procuro ser pessimista e ao mesmo tempo olhar o passado. Como era há 20 anos? Sequer se ouvia falar de prisões. Não temos tem 30 anos de Constituição Federal. De democracia não temos 60 anos”, explica o procurador.

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