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Toda mulher é o sagrado de outra

Acordar para mais um dia e enfrentar barreiras de classe, obstáculos de gênero, criações míticas fundamentalistas e apesar de tudo conseguir sorrir para a simplicidade dos encontros diários, é a mais pura manifestação da força espiritual que nos move!

Sermos mulheres brasileiras nos tem colocado no topo da resistência nestes dias, e por experiência pessoal, ser mulher espírita progressista traz outros acréscimos de motivações a esta alma.

O acúmulo de desenganos não prospera no coração de quem conhece os movimentos do sistema de poder e seu bafo demoníaco, desintegrador de potencialidades evolutivas. Percebemos então a importância de acreditar, sem negar crédito ao saber.

Quem nos faz sofrer as dores da pobreza e da miséria, não é o nosso passado espiritual, mas a ausência de iniciativas humanamente qualificadas neste instante chamado agora, desde ontem, desde o princípio dessa ontologia do massacre para que apenas alguns possam gozar a existência.

O poder construiu a sua própria lógica de manutenção. Esse determinismo é mundano, setorizado em células instituídas, disseminado pelas bocas do pavor, da perda, da negação dos dons naturais ao bem viver.

Quantas injustiças desfilam diante dos olhos rasos de lágrimas, ressecados de esperanças e submetidos ao cinza do ativismo de subsistência!

Sem brechas para as artes, a vida do excluído luta pelos raios de pequenas alegrias! Se não detemos os meios de produção econômica, nem participamos das tramas de legalização dos crimes coletivos, mesmo o que temos, não significa plenitude. Muitas vezes são pequenos subornos, outras vezes apenas resultado de lutas focadas no aspecto material, que por sua vez, nos tornaram enceguecidos para outros aspectos valiosos do existir.

O sistema excludente abre leques de afetação.

A morte banalizada nos hospitais sem recursos materiais, humanos e éticos não abraça apenas os moribundos, ela aprisiona o senso humanitário em seboso limbo.

Toda violação da vida humana é criminosa!

Toda dor evitável é grito de alerta!

Nós mulheres somos vozes que costuram histórias nas filas da saúde pública, portas de presídio, feiras livres, praças e bares, em diferentes estágios de percepção e força. Somos as que mais morrem no país do pensamento tosco, das oportunidades restritas e atitudes abusivas.

Nós precisamos de nós!

O fundamentalismo religioso tem disputado nossos corpos com a lascívia do tarado. Os destinos dos nossos filhos estão em jogo, nossa força esmorece quando um dos nossos tomba, a violência abre suas próprias janelas para assombrar o nosso sono.

Mulheres de sobrevivência opaca, precisamos descobrir as passagens para o não.

A beleza está no círculo de cuidados.

Façamos chás em torno dos dias tristes e frios, acalentando os infantes que bradam por amor, dentro de cada uma de nós, crianças feridas e crescidas sob o medo da tirania.

A saída está no encontro de corações, reunindo outras histórias, no mesmo livro cotidiano da troca de apoio.

Nas mulheres que suportaram os corpos pesados dos tiranos sobre os seus e não sucumbiram aos estupros seculares, renascendo anciãs, sábias cuidadoras em tempos de fogueiras e acusações, oferecemos nossos incensos e curvamos o dorso, para levantar com mais força o perfil de guardiãs.

Em nós o cântico do anoitecer soa longínquo e afinado, a poesia soa grande e profética, procurando ouvidos.

Nossas veias segregam lutos, brotando suores na derme incansável que renasce, renova, revive!

Nossas bocas de amores suaves são denúncias frementes, palavras ardentes de ódio e reações estouram no ar. Somos motores da humanidade! Somos verdade.

Véus caídos, rasgados, negados. Somos livres para movimentar estes dias.

A liberdade da mulher é bandeira de todas as lutas.

A mulher espírita progressista encontrou o ninho do acalento na certeza de que amor não morre!

SOBRE O AUTOR

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