Sexo e drogas em Ipioca

A comunidade é minimamente assistida pelo Estado, aglomera dificuldades de levantamento de renda, luta contra a fome em todos os seus aspectos tenebrosos, assim, o tráfico tende ocupar as lacunas

Na foto, igreja de Ipioca- símbolo da fé e da decadência: ela está fechada, roída pelos cupins. Foto: Ana Cláudia Laurindo

Ana Claudia Laurindo- Cientista Social

Estive em Ipioca, a convite da prefeitura comunitária local para uma palestra com estudantes sobre sexualidade e drogas. Além da paisagem encantadora que pode ser vista do alto, senti o drama que desafia as famílias, muitas delas convivendo com o assédio da prostituição infantojuvenil.

A proximidade de alguns hotéis de luxo (pois a miséria e a opulência são vizinhas) torna a infância, a pré-adolescência e a adolescência vulneráveis. Se para muitos de nós, adultos e formados, a tentação do vil metal se apresenta tão irresistível, imaginemos para estes indivíduos ainda em formação, o que representa uma promessa de dinheiro no bolso, mesmo que seja após um programa sexual precoce.

A comunidade é minimamente assistida pelo Estado, aglomera dificuldades de levantamento de renda, luta contra a fome em todos os seus aspectos tenebrosos, assim, o tráfico tende ocupar as lacunas que a ausência de políticas públicas sérias e comprometidas com a coletividade tem deixado.

Não foi difícil falar sobre sexualidade e drogas com o público de estudantes, numa perspectiva de orientação e prevenção, sem apontar certos ou errados, apenas conseqüências e possibilidades de caminhar, mesmo que em trechos tão pedregosos de uma sociedade projetada para não dá certo, como a nossa.

Difícil mesmo é saber que ainda por muitos anos tudo continuará como está, pois não temos gestores públicos com força política capaz de transformar para melhor, realidades como as de Ipioca, Benedito Bentes e outros bairros e conjuntos habitacionais de Maceió.

Difícil é saber que os problemas são tantos e esborram por tantos lados que o Ministério Publico prefere esperar ser convocado para agir, como se essa ação não fosse intrínseca à sua própria criação. Enquanto isso, as crianças e adolescentes viram estatística do tráfico de drogas e da prostituição, perdem seus nomes, seus rostos, sua individualidade.

Quantos daqueles presentes à palestra resistirão? Todos apresentavam as características da infância no olhar, no sorriso, nas intenções. Quem os preservará da corrupção alarmante que quebra nosso futuro como se fosse um galho seco? Não foi possível sair de lá sem essas interrogações.

O passado abandonado na estrutura da igreja secular, o presente disperso, sem tutela, em risco constante de morte, aponta para um futuro instável, que assusta. Deus e a fé sustentam o cotidiano de nosso povo.

A comunidade que foi o berço legítimo do Marechal Floriano Peixoto agoniza. De quem é essa responsabilidade?

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