Repórter Nordeste

Senador topa disputar presidência contra Renan Calheiros

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Gisele Federicce _247

Em protesto contra um “troca-troca” de azul e vermelho, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) tomou duas iniciativas: se candidatou oficialmente à presidência do Senado nesta segunda-feira 14 – conforme adiantou em entrevista exclusiva ao 247 – e se tornou grande apoiador da ex-ministra Marina Silva, que pretende criar um novo partido. O parlamentar, apelidado de Harry Potter do Senado – tamanha semelhança com o pequeno bruxo – e que se destacou na CPI do Cachoeira devido a seus discursos contundentes contra a corrupção, defende o pluralismo partidário, fala sobre seus planos de escrever um livro sobre os bastidores da comissão de inquérito e garante ainda não ter nada planejado para 2014.

“Eu nunca fiz plano antecipado. Eu não planejava em 2010 ser senador da República. Eu não tenho nada planejado pra 2014”, declara. Sobre sua primeira obra como parlamentar, ele promete, além de um fluxograma do grupo criminoso comandado pelo contraventor Carlos Cachoeira, alvo da CPI do Congresso, bastidores do grupo de trabalho formado por deputados e senadores. “Eu vou testemunhar como ocorreu o desmantelamento do relatório da CPI às vésperas da votação e escrever sobre a tarde, a noite e a madrugada que antecederam a votação”, antecipa o senador.

Com a candidatura à presidência do Senado, o pernambucano de Guaranhuns espera, além da vitória sobre Renan Calheiros (PMDB-AL) – que até então não tinha adversários -, provocar um debate sobre a Casa, não apenas sobre nomes. E protesta contra o que chama de agenda do Executivo: “O Senado não pode fazer uma correia de transição do Executivo, tem que ter uma agenda para o Brasil, não pode ser uma agenda do Executivo”. Randolfe também se dispõe a ajudar Marina Silva na criação de sua legenda, coletando assinaturas no Amapá, e acredita que isso não será visto com maus olhos por seus correligionários. “O PSOL surgiu da solidariedade de alternativas políticas de esquerda. Nós temos que ser solidários e generosos”, conclui.

Leia os principais trechos da conversa:

Por que pretende escrever um livro sobre a CPI do Cachoeira?

A ideia é mostrar tudo o que nós vimos na CPI, as angústias que tivemos com o relatório não aprovado, as impressões que apuramos. Temos um compromisso com a verdade e com o nosso papel de investigador da CPI sobre tudo o que nós apuramos.

Mas o senhor está escrevendo sozinho?

Estou colhendo informações agora, por enquanto estou escrevendo só. Penso em trocar ideias sobre isso com o [deputado] Miro Teixeira (PDT-RJ) e o [senador] Pedro Taques (PDT-MT), que estiveram comigo na CPI.

É uma forma de protesto, já que a CPI terminou sem um relatório conclusivo?

Não estou pensando em protestar, mas testemunhar a verdade, dar minha contribuição, as minhas impressões, o que percebi do funcionamento dos esquemas de corrupção e, principalmente, apontar o fluxograma da quadrilha. Justificando aí a necessidade do financiamento público de campanha como um imperativo histórico, o único mecanismo que pode pôr fim à corrupção instalada pelo grupo de Cachoeira.

O que vai ter nesse livro que a população não ficou sabendo nas sessões da CPI?

O que vi, os bastidores. Eu vou testemunhar, por exemplo, como ocorreu o desmantelamento do relatório da CPI às vésperas da votação. Porque a votação que derrubou foi uma aula clássica de como funcionam os bastidores do Congresso Nacional. Pretendo escrever sobre a tarde, a noite e a madrugada que antecederam a votação.

O senhor se tornou bastante conhecido nacionalmente por conta da CPI. Pretende alçar um voo mais alto, depois do seu mandato como senador?

Eu nunca fiz plano antecipado. Eu não planejava em 2010 ser senador da República. Eu não tenho nada planejado pra 2014. O partido sugere meu nome para lançar à presidência, eu não tenho planejamento sobre isso. Há também sugestões para que eu me lance ao governo do Estado, mas não tenho nada programado. No segundo semestre desse ano, começo a pensar que caminho seguir. O papel que cumpri na CPI foi o que eu cumpriria em qualquer outra função pública. Não fiz com nenhum planejamento, nenhum interesse. Pelo fato de ter uma posição mais independente, não tenho razão para ter amarras.

Como o senhor vê a possibilidade de volta do senador Renan Calheiros à presidência do Senado?

Essa semana a Executiva do PSOL autorizou que eu me candidatasse à presidência do Senado. Já iniciei, a partir de hoje [segunda-feira 14], a minha apresentação de pré-candidatura e quero fazer muito mais do que um debate sobre nomes, quero fazer um debate sobre o Senado. O Senado não pode fazer uma correia de transição do Executivo, tem que ter uma agenda para o Brasil, não pode ser uma agenda do Executivo. Precisa também de transparência. Mais do que divulgar os gastos dos senadores, tem que se ver o gasto do próprio Senado, para onde vai o orçamento bilionário. Tem que ter uma pauta Republicana.

O senhor se dispôs a coletar assinaturas no Amapá pra colaborar com a criação do partido da ex-ministra Marina Silva. Como isso deve ser visto pelos seus correligionários, não seria um partido para concorrer com o PSOL?

O PSOL surgiu da solidariedade de alternativas políticas de esquerda. Na verdade, o que eu gostaria era que a Marina viesse para o PSOL, mas ela é um quadro da esquerda brasileira, precisamos ter um diálogo generoso com ela. Isso não significa que vou deixar o PSOL, não tenho nenhuma pretensão de sair. Nós temos que ser solidários e generosos.

O líder do PMDB no Senado, Eduardo Braga, acredita que não há espaço para mais uma sigla no atual cenário político, principalmente depois da criação do PSD, pelo ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. O senhor concorda?

Não, em absoluto. Com todo respeito ao líder Eduardo, isso seria contrário ao pluralismo político brasileiro. Se há espaço para uma legenda que tende a se aliar com o governo, por que não teria para uma legenda para ser de oposição?

Não ter espaço seria restringir o Brasil a uma americanização, ou seja, que teria apenas dois partidos políticos, com os dois cada vez mais parecidos um com o outro. É o caso de o liberal no poder se tornar cada vez mais parecido com o conservador no poder. Em relação ao PT e ao PSDB, por exemplo, há poucas nuances, então temos que ter mais opções políticas, e não só um troca-troca de azul e vermelho.

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