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Sem terra pedem desculpas a presidente do TJ após confronto

Trabalhadores rurais sem terra do MST, CPT, MTL e MLST pediram desculpas ao presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Sebastião Costa. Sem terra e o presidente se estranharam na semana passada, quando a presidente Dilma Rousseff visitou Alagoas. Após receberam balas de borracha, disparadas pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope), os trabalhadores se armaram de paus e depredaram os carros de autoridades que ficaram bloqueados pelos sem-terra, em protesto contra a presidente da República.

Entre os carros depredados, o do presidente do TJ, que desceu do veículo e tomou o porrete. A reação do desembargador repercutiu nos grandes sites, como Globo e Terra.

Veja carta completa abaixo

Senhor Presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas,

Em virtude do lamentável incidente ocorrido no dia 17 de agosto, quando as trabalhadoras e trabalhadores acompanhados pelos movimentos de luta pela terra e reforma agrária em Alagoas – foram dispersos pelo BOPE, com uso de bala de borracha e de bombas – envolvendo o veículo que transportava Vossa Excelência, acompanhado com alguns desembargadores, vimos nos retratar e desculpar-nos.

Reconhecemos que Vossa Excelência tem tratado a questão da reforma agrária com atenção e empenho desde a época que assumia a função de desembargador corregedor, quando apurou as irregularidades no cartório de Murici e opinou pela substituição da titular do cartório.

Na condição de desembargador presidente tem atuado com firmeza e sensibilidade social para atenuar os conflitos agrários no estado, tornando-se um interlocutor essencial para evitar derramamento de sangue e preservar os direitos das famílias sem terra.

A Reforma Agrária é uma política do governo federal para diminuir as desigualdades e o sofrimento de milhares de homens, mulheres e crianças que tem nesta política de Estado a única condição para almejarem a dignidade humana. A Reforma Agrária é uma dívida social do governo brasileiro.

Vossa excelência tem acompanhado de perto a morosidade do Estado Brasileiro em promover a Reforma Agrária e a opção por uma política de migalhas para os pobres, sem alterar as estruturas coloniais das capitanias hereditárias.

Lamentamos o acontecido com o veículo do Tribunal de Justiça e esperamos que não seja caracterizado como uma ação contra o Poder Judiciário e, muito menos, contra Vossa Excelência. Apostamos na continuidade do diálogo por conhecer a vossa grandeza e a sensibilidade com as vidas dos mais fragilizados e historicamente excluídos do direito a terra.

Por fim, queremos esclarecer alguns pontos para contribuir na leitura do ocorrido não como um todo, mas como parte de uma situação criada pela assessoria da Presidência da República:

– No dia 16 de agosto, atendendo solicitação da presidenta da CUT Amélia Fernandes, as coordenações dos movimentos do campo, reuniram-se com os assessores da Presidência da República, entre eles José Claudenor Vermohlen (Zeca), para discutir à respeito da participação durante a visita da presidenta Dilma para a inauguração da fábrica da Brasken, em Marechal Deodoro;

– Fornos informados que os manifestantes ficariam à 300m de distância da presidenta e de seus convidados; Chegando ao trevo que dá acesso ao pólo, cerca de 10 km de distância do local do evento, fomos abordados pela Polícia Militar de Alagoas, que impediu o acesso ao local definido pela assessoria da presidência;

– Entrando em contato com o assessor da presidência, José Claudenor Vermohlen, informamos que fomos impedidos de chegar ao local pelo aparato policial, e o mesmo nos informou que a ordem do bloqueio partiu do Governo do Estado de Alagoas. Em contato telefônico com secretário do gabinete civil, Álvaro Machado, alegou-se que a ordem de não permitir o acesso veio da Presidência da República;

– A interdição da rodovia, era simplesmente para garantir o acesso ao local e a entrega da pauta de reivindicação dos movimentos do campo;

– Ainda em processo de negociação, chega o Bope disparando balas de borrachas e bombas de efeito moral, numa verdadeira ação de guerra contra cerca de 250 trabalhadores, incluindo crianças, idosos e uma gestante.

Maceió. 20 de agosto de 2012. MST, CPT: MTL e MLST

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