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Sem ataques há 20 meses, surfistas voltam a pegar ondas no mar do Grande Recife

Diário de Pernambuco

Um ano e oito meses sem incidentes com tubarão em Pernambuco. Para um estado que registrou 53 ataques com 20 mortos entre 1992 e 2009, a pausa nas ocorrências representa uma boa notícia, mas ainda não significa que a faixa de litoral proibida por decreto estadual para banho, prática de surf e outros esportes náuticos esteja liberada. Em alguns trechos do litoral tomados pelas placas de alerta sobre o risco de ataques de tubarão, surfistas desrespeitam as regras e praticam o esporte sem lembrar de um passado ainda recente. Diante dessa aparente calmaria nas praias do estado, integrantes do Comitê Estadual de Monitoramento aos Incidentes com Tubarões (Cemit) já pensam na possibilidade de reduzir os limites da área de risco para ataques.

A praia de Zé Pequeno, em Bairro Novo, Olinda, é um dos locais procurados pelos surfistas. Ali nunca houve registro de tubarões, mas a praia foi inserida na área considerada de risco por estar próxima do Porto do Recife. “Já procurei saber na internet sobre os riscos de ser atacado por um tubarão aqui e sei que não tem perigo”, comenta o estudante Elton Rodrigues dos Santos, 14 anos, que pega onda há menos de um ano no trecho. “Vejo muito boto e golfinho, mas tubarão não”, completa Johnny Félix Pereira, 14. Perto dali, na praia conhecida como Del Chifre, já houve registro de incidentes com o animal e mesmo assim ela continua atraindo surfistas.

A fiscalização do trecho de praia proibido para a prática de surf e outros esportes náuticos é função do Corpo de Bombeiros, mas nem sempre a tarefa é fácil. Em Zé Pequeno, por exemplo, os surfistas dão trabalho. “Os bombeiros sempre vêm aqui. Nessas horas a gente tem que sair, senão eles levam as pranchas”, diz Diego Acioli, 21.

Outro ponto problemático fica entre as praias de Itapuama e Paiva. Uma placa na terra indica que, no lado Norte, os esportes e o banho de mar são probidos, o que leva a crer que no lado Sul seria permitido. “Essa confusão acontece porque o decreto prevê que a proibição é válida até a última placa. Do mar, a pessoa fica sem entender onde está o limite. Quando os surfistas percebem que nós chegamos, eles correm juntos para o lado permitido”, diz o tenente-coronel Leodilson Bastos, do Grupamento de Bombeiros Marítimo (GBMar).

Debate

Enquanto os jovens enfrentam as ondas, a redução dos limites das áreas de risco para ataque será posta em discussão na próxima terça-feira, na reunião do Cemit. O tema também será avaliado em um workshop que está sendo preparado sobre tubarões. A discussão é polêmica.
Alexandre Carvalho, do Instituto Oceanário, acredita que áreas como Zé Pequeno, em Olinda, e a baia de Itapuama, no Cabo de Santo Agostinho, até poderiam ser liberadas porque não registram incidentes com esses animais. Já o coordenador do Departamento de Engenharia de Pesca da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Paulo de Oliveira, diz que a redução da área de risco é perigosa. “Já pensou se no dia seguinte a essa decisão acontece o ataque?”.
O presidente do Cemit, Fábio Hazin, defende uma discussão mais ampla. “Todos os pontos de vista e aspectos do problema devem ser considerados com o cuidado que merecem. Acho prematuro emitir uma opinião a respeito por enquanto”, resume.

Pesquisa

A principal razão da redução dos ataques, segundo Hazin, foi a remoção dos tubarões da área de praia e a educação ambiental. Desde 2004 vem sendo feito um trabalho de pesquisa e monitoramento dos tubarões que ganhou eficiência, há três anos, quando, além de capturar os animais, a equipe passou a transportá-los para longe da praia depois de marcá-los para serem monitorados via satélite.

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