Secas e enchentes estão piores e mais frequentes em AL, diz estudo do Governo

Enchente do Rio Ipanema em Santana do Ipanema/AL (Foto: Jean Souza)

As mudanças climáticas estão diminuindo a distância entre enchentes e secas também em Alagoas. E os dois fenômenos têm sido cada frequentes e intensos, segundo análises da Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh) usando dados dos últimos 12 anos.

Em 2023, devido ao aumento da probabilidade de El Niño (90%), aquecimento das águas do Oceano Pacífico, há o risco de escassez de água. O fenômeno pode durar até 2024.

O fato é que os efeitos das mudanças climáticas chegaram a Alagoas de maneira significativa. Os dados já são alarmantes e ano após ano tem preocupado técnicos e entidades governamentais pelos extremos, tanto de enchentes como de secas.

Para discutir medidas com vistas à mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, a Semarh em parceria com o Instituto do Meio Ambiente (IMA), promoveu a V Reunião do Fórum Alagoano de Mudanças Climáticas.

O evento ocorreu na manhã de ontem (01), no auditório do IMA e reuniu técnicos, secretários, lideranças e acadêmicos para uma discussão a respeito dos rumos da política estadual de mudanças climáticas.

A ocasião também marcou a abertura de uma série de ações em alusão a Semana do Meio Ambiente, promovida pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA) e Semarh.

V Reunião do Fórum Alagoano de Mudanças Climáticas. Foto: Assessoria

Eventos climáticos extremos

O superintendente de Prevenção em Desastre Naturais, Vinicius Nunes Pinho, esclareceu questões importantes a respeito das consequências socioambientais de eventos climáticos extremos.

“A gente vem percebendo nos últimos anos um aumento significativo da frequência de eventos meteorológicos e hidrológicos críticos aqui no nosso estado e quando eu falo em eventos críticos eu não falo só de cheias (…) as duas maiores cheias da história de Alagoas foram registradas nos anos de 2010 para cá, e a maior seca da história do Nordeste brasileiro, foi registrada dos anos de 2012 há 2017”, alertou.

Superintendente de Prevenção em Desastre Naturais, Vinicius Nunes Pinho. Foto: Reprodução/Youtube

Em 2010, 95 dos 102 municípios de Alagoas foram atingidos por uma grande enchente. Ao todo, 46 óbitos foram confirmados. Algumas das vítimas até hoje não foram encontradas. Os prejuízos foram imensos: mais de 30 mil casas foram destruídas e danificadas e mais de 150 mil pessoas foram afetadas. O impacto ambiental foi severo.

O contraste veio em seguida: a maior seca do Nordeste brasileiro. A seca começa em 2012 e seus efeitos se estendem até 2017. Pelo Monitor de Secas do Nordeste, Alagoas chegou ao nível de seca extrema, quando há grandes perdas de culturas, pastagens, escassez de água generalizada ou restrições e seca excepcional, secando reservatórios, córregos e poços de água e criando situações de emergência.

“De novembro, dezembro, janeiro, fevereiro e março [de 2016 até 2017] nós tivemos os 102 municípios numa situações de seca extrema e excepcional. Até a região metropolitana, que é uma região que consome muita água, por ser uma região turística, estava entrando em colapso no abastecimento de água. Foi uma seca generalizada, que atingiu não só o estado de Alagoas mas todo o Nordeste do Brasil”, esclareceu.

Na época, o Governo de Alagoas decretou estado de emergência devido à seca em 77 dos 102 municípios.

Em 2020 ocorre uma grande cheia no sertão de Alagoas. Segundo Vinicius, o evento gerou surpresa pois foi o primeiro registro de enchente no Sertão Alagoano, que afetou significativamente a região do rio Ipanema.

“Nós tivemos centenas de famílias que perderam suas casas, que foram desabrigadas e desalojadas neste evento. Posteriormente a isso nós tivemos que elaborar uns mapas de mancha de inundação no município, que não possuía esse trabalho (…) felizmente não tivemos nenhuma vítima fatal”.

Em 2022 o excepcional ocorre mais uma vez: todos os principais rios de Alagoas, ao mesmo tempo, transbordaram suas calhas. Além disso, a ocorrência de chuvas em novembro, período fora quadra chuvosa do estado, levou a emissão de alerta e gerou impacto em rios, lagoas e áreas urbanas. Ao todo, 47 avisos, 12 alertas meteorológicos e 28 alertas hidrológicos foram emitidos ao longo do ano. Pelo menos 3 óbitos foram registrados.

Desigualdades e Justiça Climática

De acordo com o Relatório sobre Clima e Desenvolvimento para o Brasil (CCDR), divulgado pelo Banco Mundial em abril deste ano, eventos relacionados ao clima podem levar de 800 mil a 3 milhões de brasileiros à pobreza extrema a partir de 2030.

Segundo o estudo – que avalia políticas e opções para que o país cumpra seus objetivos climáticos e de desenvolvimento –, secas, enchentes e inundações nas cidades causam perdas de R$ 13 bilhões (0,1% do PIB de 2022) ao ano.

Se não incluir desigualdades e enfrentar lobby de grupos econômicos majoritários, a política estadual de mudanças climáticas choverá no molhado. O governo tenta avançar, mas Alagoas é complexa e precisa incluir as populações historicamente esquecidas.

Enchente deixa dezenas de desabrigados em Santana do Ipanema/AL. Foto: Márcio Ferreira

Os efeitos das mudanças climáticas à longo prazo podem afetar a população, sobretudo as mais vulneráveis, de diversas formas:

– Reduções do rendimento agrícola relacionadas ao clima e eventos climáticos extremos;
– Alterações nos preços dos alimentos;
– Impactos na saúde;
– Redução da produtividade do trabalho devido ao calor, entre outros.

Para Marcelo Ribeiro, superintendente da Semarh, é preciso utilizar o termo justiça climática. Ele fala em enfrentar o racismo ambiental.

“Nós estamos juntos ao Ministério do Meio Ambiente trabalhando no Zoneamento Ecológico-Econômico do estado, isso vai nos possibilitar identificar todas as áreas de risco, identificar as áreas que são mais impactadas, isso é um instrumento também de gestão, por que hoje a gente tem, por exemplo, na zona do litoral de Milagres [São Miguel dos Milagres] um grande boom imobiliário e isso cria um processo de gentrificação, ou seja, populações autóctones, populações tradicionais, as vezes são expulsas (…) convidadas a se retirar de seus locais originais e trazendo o turismo muitas vezes um turismo predatório (…) que não traz a devida divisão de renda e a democratização dos recursos”, esclareceu Ribeiro.

O Brasil está entre os dez países que se sentem mais fragilizados em relação ao meio ambiente: 84% dos brasileiros expressam um sentimento de vulnerabilidade ecológica e climática, ante 71% da população mundial.

Os dados são do Barômetro de Transformação Ecológica, primeira pesquisa de opinião global que avalia o nível de aceitabilidade das soluções ecológicas e analisa barreiras e ações para acelerar a transformação para uma economia verde.

A pesquisa também revela que 87% dos brasileiros entrevistados afirmam ter adoecido em consequência de poluição (água, ar e solo) e 80% tiveram prejuízos materiais por causa de desastres naturais (enchentes, secas e outros eventos climáticos).

Segundo o levantamento, um em cada três brasileiros está muito preocupado e ansioso com o futuro, a ponto de não ficar em paz ou mesmo desistir de projetos de longo prazo, como o de ter filhos.

O estudo foi feito em 25 países dos cinco continentes com mais de 25 mil pessoas (cerca de mil por país). As nações foram escolhidas por seu peso demográfico, seu impacto em termos de emissões de fases de efeito estufa e para garantir uma diversidade de histórias políticas e culturais ecológicas. Juntos, esses países representam quase 60% da população mundial e 68% das emissões globais de gases de efeito estufa.

A pesquisa foi realizada online de 24 de agosto a 26 de setembro de 2022. Para cada um dos 25 países, foi selecionada uma amostra representativa de residentes com 18 anos ou mais.

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