Saiba o que fazer para não ultrapassar os limites e ter um Ano-Novo sem estresse

Zero Hora

Se tivermos que eleger o mês mais estressante do ano, dezembro, certamente, será o escolhido. Excesso de compromissos e decisões, somado à sobrecarga de trabalho, trânsito caótico, gastos adicionais com presentes e viagens e até a revisão de vida e a consequente formulação de expectativas que as pessoas costumam fazer neste período colaboram para isso.

— Além disso, dezembro é um mês curto – por conta dos feriados ou férias coletivas, de muitas comemorações e, também, de trabalho extenuante. É a época em que as empresas correm para finalizar o planejamento estratégico do ano seguinte. Em consequência, o nível de estresse costuma ficar exacerbado. Os sintomas vão desde cansaço, dores musculares, distúrbios do sono, impaciência, irritabilidade. Estes sinais indicam que você ultrapassou o seu limite — afirma Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association (Isma-BR) – entidade internacional voltada à pesquisa e ao desenvolvimento da prevenção e do tratamento de estresse – e representante brasileira na Divisão de Saúde Ocupacional da Associação Mundial de Psiquiatria (WPA).

Segundo a psicóloga e dirigente do Centro Psicológico de Controle do Stress, Claudia Schroder Lopes, a sobrecarga de trabalho nas empresas e o grande movimento no comércio nessa época são alguns dos responsáveis pela sensação de esgotamento da população, sobretudo a que vive em metrópoles como Porto Alegre:

— O trânsito caótico, lojas, shoppings e supermercados lotados, com filas intermináveis, ruas invadidas por pessoas apressadas, inúmeros convites para festas de confraternizações, tudo isso colabora. Outros fatores que geram essas turbulências seriam os gastos mais elevados do que o planejado, expectativas frustradas sobre festas e presentes e a ansiedade pela “obrigação” de se sentir bem nessa época.

Vale lembrar que o nível de estresse não se eleva de um dia para o outro: há um efeito cumulativo. Por isso, é importante saber lidar com o excesso de pressão e com a falta de tempo. Estas lições passam por um processo de autoconhecimento: aprender a dizer não, impor limites e organizar as atividades profissionais e pessoais.

Independentemente de como esteja se sentindo, por toda a parte há celebrações: na empresa, na academia de ginástica, entre os amigos próximos e até entre aqueles com quem você não se relaciona durante o ano. O Natal pode ser uma época repleta de alegria. E também de estresse. Pesquisas da Isma-BR (veja dados a seguir) mostram o que já se percebe na prática: para 83% dos brasileiros, nesta época do ano o nível de estresse aumenta em até 77%.

— As expectativas de fim de ano criam exigências que podem reduzir o prazer das celebrações e até causar sentimentos de ansiedade, depressão e culpa quando a pessoa não se sente feliz. É exatamente esse o ponto: a tal felicidade. Nesta época, existe uma obrigação em ser ou de, no mínimo, estar feliz. Isso significa sorrir, abraçar, confraternizar — avalia Ana Maria.

Para a especialista, a questão é que não existe a tal pílula da felicidade para ser consumida, que deixe uma pessoa feliz e esperançosa simplesmente porque é Natal:

— Mas, infelizmente, cobramos isso uns dos outros e, pior ainda, é a auto cobrança: por que todo mundo está feliz menos eu? Não importam as tristezas ou o momento atual. E quem não se deixa contagiar por esta onda de exaltação pode ser taxado de estar de mal com a vida.

No Natal, as emoções tendem a ser mais intensas. Se você teve alguma perda, possivelmente sua dor e sua solidão serão ampliadas porque foi instituído que este é o momento de confraternizar com a família, com os amigos e até com aqueles para quem durante o ano você torce o nariz. E para quem não está nesta vibração, este astral festivo pode levar a uma tristeza ainda mais profunda.

Portanto, antes de participar mecanicamente de rituais e celebrações, avalie suas prioridades para este final de ano baseado nas suas respostas às perguntas: o que é realmente importante para mim neste momento? Que tradições quero manter? Com quem quero compartilhar meu tempo? Independentemente de suas respostas, tenha em mente que a maioria desses conflitos internos tende a se dissipar a partir da primeira semana de janeiro. E o mais importante de tudo: lembre-se sempre que o seu bem-estar é uma missão pessoal e intransferível.

Para quem fica só, dicas inspiradas no budismo

Se esta época já é complicada para quem tem família e amigos por perto, imagine para quem tem que passar as festas de final de ano sozinho. A psicóloga Rita Erbs, doutora em Educação e estudiosa das sabedorias orientais (como o budismo), dá um conselho valioso para estas pessoas: primeiro, é preciso dissolver o sentimento de solidão:

— Nunca estamos sozinhos, sempre temos alguém muito próximo para nos acolher. A dificuldade de se deixar acolher é que precisa ser trabalhada.

Segundo ela, queremos que tudo seja como imaginamos, o que é uma armadilha.

— Não temos o controle de nada e acreditamos que temos. Fazemos de conta que tudo é para sempre, mas a vida não é um conto de fadas: ela é regida pela impermanência. Todos querem ser felizes, mas criam fórmulas para chegar até a felicidade — afirma a psicóloga.

Rita vai além: para ela, “ficamos cegos para a felicidade que podemos sentir com o que já existe: o sorriso de uma criança, um amigo, a natureza, um bichinho de estimação, uma pessoa gentil no trânsito. Várias situações nos acolhem durante o dia, precisamos enxergá-las e trazê-las para a nossa mente”.

Excesso de responsabilidade figura entre as principais fontes de ansiedade

A combinação é explosiva: excesso de comida e bebida alcoólica, gastos além da conta, estresse, depressão e a obrigação de parecer feliz no fim de ano provocam danos não só no corpo, mas também na mente.

Quem já tem hipertensão, arritmia ou depressão, por exemplo, corre mais risco de sofrer um derrame ou ataque cardíaco como consequência do que os americanos chamam de holiday heart syndrome (síndrome de fim de ano).

A pesquisa divulgada pela International Stress Management Association (Isma-BR) é a comprovação de que qualquer um pode ter uma síncope nessa época devido ao estresse e à alta descarga de adrenalina.

A lista de problemas de saúde ainda inclui doenças circulatórias, gastrointestinais e insônia, entre outros. Veja a pesquisa:

Por dentro do problema

83% dos entrevistados afirmaram que sentem sobrecarga com as responsabilidades adicionais nesta época.

65% fazem planejamento em excesso, tanto no trabalho quanto na vida pessoal.

30% cometem gastos adicionais com presentes e festas.

Principais sintomas físicos

84% têm dores musculares, incluindo dor de cabeça e nas costas.

39% sofrem de distúrbios do sono.

31% disfunções gastrointestinais.

Outros reflexos comportamentais

87% ficam mais apressados.

84% se sentem mais ansiosos.

72% notam que estão mais irritados.

58% aumentam o consumo de drogas,medicamentos e de bebidas alcoólicas.

47% consomem mais comida.

25% ficam mais sensíveis.

Fonte: International Stress Management Association (ISMA-BR)

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