Repórter Nordeste

Reyneri Canales: Advogado de réu tentou suborno para incriminar delegado, diz testemunha

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Depoimento de uma das testemunhas do processo que apura o assassinato do agropecuarista Alberto Reyneri Pimentel Canales Ybarra- morto em 16 de agosto de 2012- pode ser uma das peças mais importantes para que o Tribunal de Justiça decida desaforar o julgamento dos acusados na morte do agropecuarista de Palmeira dos Índios (palco do crime) para Maceió.

Ela falou no dia 25 de janeiro para o promotor Marcus Mousinho, em Palmeira. Diz que vinha sendo procurado, durante um ano, pelo advogado do então vereador Arnaldo Cavalcante de Lima- considerado autor intelectual do assassinato. E no dia do encontro, o advogado de Arnaldo estava acompanhado de um policial militar armado.

Pediu-se que ela mudasse seu depoimento para ajudar Arnaldo e Ely Oliveira de Almeida, um dos executores do crime.

A mudança incluiria um elemento importante: acusar o delegado de tortura.

E custaria R$ 70 mil, dividido em duas vezes: R$ 30 mil e, mais à frente, os R$ 40 mil.

A testemunha consultou seu advogado. Se aceitasse a proposta, explicou o profissional, “estaria assinando sua sentença de morte”.

Quem é quem?

Reyneri Canales tinha 40 anos quando foi assassinado em 16 de agosto de 2012 no Haras R.C. Fazenda Acapulco, no sítio Lagoa Funda, zona rural de Palmeira.

Recebeu 20 tiros.

Paulo Roberto Xavier de Araújo, Arnaldo Cavalcante de Lima, Ely Oliveira de Almeida e Rogério Ferreira dos Santos- acusados no crime- foram pronunciados por homicídio qualificado.

O motivo seria uma discussão dias antes do crime entre Arnaldo e a vítima.

Duas testemunhas, segundo o processo, foram colocadas em programa federal de proteção.

Uma delas é a que foi ouvida pelo promotor.

Pistolagem
Um dos réus- Ely Oliveira de Almeida- “é pessoa temida pelos crimes que lhe foram imputados” (explica a ex-companheira dele, em depoimento) e “Ely vive de matar pessoas há trinta anos e nunca foi pego, ele se vangloriava muito porque nunca foi preso”.

O rastro da pistolagem em Ely vem desde 1985.

“(…) mata pessoas por dinheiro, durante esse tempo todo se ele matou uma ou duas pessoas por motivos pessoais foi muito (…)”

Segundo o depoimento da ex-companheira, Ely cometeu crimes em Jaramataia, Major Izidoro, Batalha, Cacimbinhas, Igaci. Pagou R$ 200 mil a Paulo Roberto, chamado de “Paulo Bala”, “para matar um promotorzinho, isso em 2011”; tinha ainda “muitas armas” mas guardava em casa apenas uma pistola e um revólver.

Ela cita políticos que usavam seus serviços- incluindo um ex-deputado que encomendou a morte do radialista Alves Correia.

“Assim, Ely Oliveira de Almeida, pela fama de “matador’ é pessoa bastante temida na região de Palmeira dos Índios, sendo esta reputação é capaz de causar grave temor nos jurados residentes nesta cidade”, detalha a magistrada, ao listar as razões para o desaforamento.

Intimidade
Paulo Roberto é chamado de “Paulo Bala”. Ele “só faltava morar em casa [de Ely], fazia refeições, bebia”. Era chamado de sucessor de Ely nos crimes de encomenda.

“Quanto ao réu ROGÉRIO FERREIRA DOS SANTOS, emergem dos autos informações que traduzem a conduta do réu como integrante de uma organização que extermina pessoas mediante paga, utilizando-se o mesmo da qualidade de policial militar para adquirir informações privilegiadas para o cometimento de crimes”, explica a magistrada.

Rogério é policial militar e foi candidato a vereador.

Já Arnaldo Cavalcante- considerado autor intelectual do crime- era vereador em Palmeira e chegou a ser preso preventivamente. Tinha ainda influência no Detran da cidade “onde trabalhou para prestação de favores”.

Soltura negada
Em maio do ano passado, o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou habeas corpus a Arnaldo. O ex-vereador alegou que a prisão preventiva não estava devidamente fundamentada e havia excesso de prazo.

A defesa dele diz que a prisão foi equivocada porque usou-se como argumento uma discussão entre ele e a vítima, dias antes do crime.

Segundo ele, a namorada e o irmão da vítima não citaram o ex-vereador como suspeito do homicídio e que a prisão do ex-vereador foi baseada apenas no depoimento de uma pessoa acusada de outros assassinatos.

Paulo Bala, entrevistado em novembro de 2013, negou o crime.

“Nem com minhas próprias inimizades, pessoas que tenho problemas pessoais, eu nunca pratiquei nenhum crime, principalmente nessas circunstancias”, afirmou.

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