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Ressurreição à Matriz de Camaragibe

Quando me perguntam se sou de Matriz de Camaragibe, costumo responder que fui. Pois não consigo me ver “sendo” de uma cidade onde a política destrói sonhos e vidas implumes, na falta de perspectiva, perseguições e opressões multiformes. Onde os meninos e as meninas de ontem, que brincaram na mesma praça, tornam-se algozes uns dos outros, em nome de mesquinhas administrações do dinheiro que deveria ser de todos, mas beneficia uma exígua parte em detrimento da maioria, que passa fome no corpo, na alma, na moral.

Eu digo que fui, na época em que as sextas-feiras santas abriam as portas de todas as casas, onde qualquer conhecido seria bem recebido para provar um pouco do peixe e da maniçoba. Quando as noites eram fantasiadas pelo cinema da Dona Edite, que certamente apresentaria hoje a “Paixão de Cristo”, sob o acordo prévio da infestação de gases intestinais, resultado do alto consumo de coco nas iguarias do dia.

Esse tempo – minha infância – era repleto de esperanças. Hoje ninguém mais se ilude!

Salvo a memória das panelas de barro, que repousavam sob o fogão artesanal, criado de varetas, barro e lenha seca, a nos oferecer pratos do rio e do brejo, como os deliciosos aruás cozinhados no leite do coco para serem comidos com molho de pimenta malagueta, que eu preferia verdes.

Não existia o afã dos ovos de chocolates, mas o camarão era comprado mais barato, e os braços longos do pitu pescado no Camaragibe trazia sabor original, adocicado por certo nas pedreiras da Serra D’ Água, para as nossas mesas.

Após o repasto diversificado, nós as crianças de ontem – hoje algozes e vítimas da mesma estação – corríamos a brincar na praça, saltitando sob os bancos de granito e catando piriquiti para enfeitar o mundo.

Como negar essa pertença cheia de glórias?

Hoje, as lamúrias dos perseguidos e a deformação das almas tornadas opressoras, embebidas em chocolates caros e vinhos.

Como querer pertencer a esse cenário?

Apelo para a dignidade da fé, esperando a justiça que exemplificou o que foi crucificado, com a ressurreição!

Ressuscite Jesus em nosso peito amargurado ou em nossas mentes entorpecidas, as lembranças do que fomos, na esperança da possibilidade do resgate e respeito ao outro, com quem já brincamos nas calçadas da infância, mas principalmente pelo futuro dos que chegaram depois e daqueles que chegarão, para que não precisem renunciar por vergonha histórica, o berço que agora os recebe.

Uma resposta

  1. Nossa Ana Claudia Laurindo vc falou tudo viu…eu quero agradecer a DEUS p fazer parte dessa nossa infancia MARAVILHOSA…onde agente esperava anciosamentte pelo mes de dezembro..onde a praça do Nosso Glorioso Bom Jesus ficava toda iluminada…hj volto a Matriz e nao consigo m vê meus amigos de infancia..pq todos tomaram rumos diferentes pq Matriz nao tem emprego p ninguem…fico m triste qdo vejo que minha Matriz de Camaragibe nao é mais a mesma…ohhh saudade daquela epoca. quero mandar um grd bjo p todos meus amigos de infancia. Luciana Oliveira, Aracaju,02 de abril de 2014

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