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Repórter Econômico: Lembrando os anos 80

José Jair Barbosa Pimentel- Dicas de economia para o dia a dia do consumidor

Lembrando os Anos 80!

O último presidente militar, João Batista Figueiredo (1979/85), levou o país a uma hiperinflação, empobrecendo cada vez mais a população. Com a eleição de Tancredo Neves e a sua morte, antes de ser empossado, assumiu o vice presidente, José Sarney, que escolheu uma equipe de economistas para elaborar um plano de congelamento de preços e salários, liberando a poupança e demais investimentos. Tancredo era contra. Mas deu certo no início. A classe média agradeceu, exatamente porque vinha juntando dinheiro no mercado financeiro e o salário sem reajuste, não influiu na sua qualidade de vida.

Para fiscalizar o plano em defesa do consumidor, funcionava a Sunab, que se tornou “o bicho papão” dos comerciantes. Muitos supermercados, mercadinhos e lojas dos mais variados setores, foram fechados, por não cumprir o congelamento de preços. No início, tudo “corria bem”, com os consumidores sem se preocupar mais com as conhecidas “maquininhas de reajuste de preços” quase diárias, que funcionavam nos supermercados. A tabela de preços era importante em mãos de todos para ir às compras. Se encontrasse algum produto com valor diferente para cima, denunciava e sentia o “gostinho” de ver as portas fechadas logo.

Mais um…
O Plano Cruzado, recebeu esse nome em alusão a moeda que substituiu o cruzeiro. Durou apenas um ano e pouco. Começou a faltar produtos nos supermercados, formando filas enormes de consumidores para comprar um quilo de feijão, de arroz, de carne. O estoque era mínimo e o plano não deu certo. Os chamados “pais do Cruzado”, liderados pelo ministro da Fazenda Dilson Funaro (João Sayad, André Lara Rezende, Luiz Gonzaga Bellusso e Pércio Arida) deixaram o governo. Assumiu o comando da economia, Luiz Carlos Bresser Pereira, que instituiu o Plano Bresser, nos mesmos moldes (congelamento de preços e salários), a inflação disparava e ele zerou. Essa inflação não foi repassada para o salário.

E mais outro…
Em 1989, ano de eleição para presidente da República, entra o ministro Mailson da Nóbrega, que instituiu o Plano Verão, outro fracasso e nesse último ano da década, a inflação chegava a 70% ao mês. A poupança crescia no mesmo ritmo, enganando os poupadores, pois os preços corriam mais rápido, desvalorizando a moeda. O adversário de Sarney, Fernando Collor de Mello, prometia consertar tudo e ganhou facilmente às eleições com sua campanha contra os marajás do serviço público, a gastança desenfreada do governo e a hiperinflação. Assumiu com ela em 84% ao mês, confiscou o mercado financeiro e “virou o pais de cabeça para baixo”.

Missão difícil
Nessa época de mudanças da economia com os planos Cruzado, Bresser, Verão e Collor, já atuava no jornalismo econômico com a esse mesma coluna: Repórter Econômico, criada na década de 1970 no Jornal de Hoje, quando iniciei minha profissão, por ter formação acadêmica em Economia (Ufal), além de professor de Ciências Sociais. Esse verdadeiro pandemônio (confusão), chegou até mesmo a ameaçar minha credibilidade profissional, pois dava dicas ao consumidor, e de repente, mudava tudo.

Antes e depois
Na campanha e depois posse do presidente Collor, ele afirmava que jamais mexeria na caderneta de poupança. E o Repórter Econômico passava essa informação aos seus leitores. Já estava no Jornal de Alagoas. Um dia, quando conversava com um gerente do banco – onde tinha minha poupança sobre o confismo – chegou outro cliente e sentou-se ao lado, vendo o exemplar do dia do jornal, abrindo a página de Economia, com a coluna e pediu licença para desabafar, afirmando que seguiu meus conselhos e não sacou todo o dinheiro da poupança. Ele não imaginava que eu estava na mesma situação de desespero, com o dinheiro “preso” e desvalorizado. Não me conhecia pessoalmente. Os 84% da inflação não foram repassados para o rendimento da conta. A poupança voltou dois anos depois, com outra moeda e totalmente desvalorizada.

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