Relembrando Chico Anysio

Eu cruzava de vez em quando com Chico quando ele vinha gravar seus comentários para o Fantástico mais ou menos na mesma hora que eu estava no estúdio. Sempre foi um cavalheiro comigo, por vezes até tímido

Rubens Ewald Filho

Sempre tive enorme admiração por Chico Anysio, porque faço parte da geração que se espantou com o que ele fazia na televisão, junto com o diretor Carlos Manga, utilizando pela primeira vez o vídeo tape com cortes, que permitiam que ele  fizesse uma enormidade de papéis. Ele era um grande criador de tipos, de personagens, de bordões e tinha a certeza também que seria um grande ator dramático (chegou a ter alguma chance em alguns filmes recentes, Tieta do Agreste, Uma Professora muito Maluquinha, Se eu Fosse Você II).

Seu irmão Zelito Vianna não se esqueçam,  é diretor de cinema (e chegaram a tentar lançá-lo no cinema fazendo personagens múltiplos no mau sucedido e episódico O Doce Esporte do Sexo, em 71). Além disso, toda sua família é de artistas, assim como vários dos filhos (Bruno Mazzeo e Nizo Netto os mais conhecidos), sobrinhos (Marcos Palmeira, as diretoras Betsy de Paula e Cininha de Paula, a atriz Maria Maya) e várias ex-mulheres (a comediante Nancy Wanderley, a vedete Rose Rondelli, Alcione Mazzeo).

Pouca gente se deu conta, porém que ele começou no cinema nas chanchadas trabalhando como ator (às vezes como Francisco Anysio) e também escrevendo roteiros. São filmes como O Primo do Cangaceiro, 55, com Antonio Carlos pai de Gloria Pires, Eu sou o Tal, com Vagareza, 59, Entrei de Gaiato, 59, com Zé Trindade, Dercy; Mulheres a Vista, com Zé e Grande Otelo, 59; Cacareco em Aí, com Oscarito (60), um papel central em Pequeno por Fora (60, que nunca viu ou ouvi falar direito) e O Palhaço o Que é? (60), com Fred e Carequinha. Mas seria na tevê que iria encontrar seu espaço ideal.

Eu cruzava de vez em quando com Chico quando ele vinha gravar seus comentários para o Fantástico mais ou menos na mesma hora que eu estava no estúdio. Sempre foi um cavalheiro comigo, por vezes até tímido. Conversamos pouco, mas sempre de maneira gentil. Não faz muitos anos, numa das brigas periódicas com a Globo, ele andou escrevendo uns roteiros de cinema que esperava vender em Hollywood (eram em inglês e ele tinha um agente para negociar com os estúdios. Parece que conseguiu até vender um deles ). Chegou a me ligar e pediu para eu ler os roteiros. Eu li alguns e os achei fraco. Eram a sério, sem humor. Tempos depois passou um e-mail pedindo de volta, sem maiores comentários. Acho que estava implícito que eu preferia calar a perder o amigo. A última vez que o encontrei foi no programa do Jô Soares, quando gravamos no mesmo dia. Estava saindo quando me viu e veio me abraçar efusivamente. Já estava abalado pela doença, ele foi a simpatia de sempre.

Agora em retrospecto que percebo que nunca tive a chance de deixar claro quanto o admirava, talvez tenha sido a timidez. De qualquer forma, não era só eu, era todo o Brasil. Quando morre um artista desse gabarito ficamos mais pobres de um tesouro irrecuperável. O Humor de que tanto precisamos para tornar a vida mais leve e suportável.

Saudades Chico.

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