Relações entre jogo ilegal e políticos atinge integrantes da Polícia

A investigação da Polícia Federal também revela que em várias ocasiões membros da Polícia Militar fizeram um trabalho de “segurança privada” dos cassinos dos grupo de Cachoeira

IG

Investigações da Polícia Federal (PF) relacionadas à Operação Monte Carlo revelam que o empresário de jogos de azar, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, utilizava a estrutura da Polícia Civil e Militar de Goiás em Luziânia e Valparaíso, para fechar cassinos que funcionavam sem a sua autorização e também para fazer a segurança de casas de bingo integrantes do grupo.

Em dezembro de 2010, conforme o inquérito da PF, um integrante da quadrilha de Cachoeira, Washington Queiroga, abriu uma casa de bingo em Valparaíso sem a autorização do bicheiro. Ao tomar conhecimento, Cachoeira pediu ao seu braço direito na quadrilha, Lenine Araújo de Souza, o fechamento do bingo. A pedido de Lenine, o cabo da Polícia Militar, Antônio Carlos da Silva, conhecido como major Silva, também integrante do grupo, articulou uma operação policial que resultou no fechamento do bingo que funcionava sem a autorização de Cachoeira.

O bingo foi reaberto semanas depois com a anuência do então delegado de Polícia de Valparaíso, Marcelo Zegaib Mauad, conhecido como “Turco”. Ele também era integrante do grupo de Cachoeira. Para conseguir reabrir o bingo, no entanto, Washington pagou R$ 25 mil por mês para Cachoeira e também R$ 1,5 mil por semana de propina, conforme as investigações da PF.

A PF afirma que o delegado relaxou o flagrante e liberou os equipamentos de Washington. “O Fonseca (outro integrante do grupo de Cachoeira) já está fazendo salário para o Mauad lá de… forçou eu dar R$ 1,5 mil porá ele por semana, entendeu? Eu te falei isso, né”, disse Washington Queiroga a José Olímpio Queiroga Neto, empresário também integrante do grupo, conforme a PF em diálogo interceptado dia 28 de dezembro de 2010.

Em janeiro, pela investigação da PF, o bicheiro Carlinhos Cachoeira pede por meio de interlocutores que o delegado Mauad feche em definitivo do bingo de Washington. Pelo inquérito da PF, Washington não vinha cumprindo o acordo de pagamento de R$ 25 mil ao bicheiro pela autorização de funcionamento do cassino em Goiás.

“Tá Lenine, eles vão dar sempre. Pega o delegado Mauad, manda lá agora arrebentar, tirar os trem (sic) e leva, quero vê se eles vão devolver. O Mauad não é seu amigo, manda ele lá dentro ué, aqui eles fazem direto uaí, isso dessa forma. Não precisa ser só a noite, manda pegar lá agora”, disse Cachoeira a Lenine em conversa interceptada em 31 de janeiro.

 

O pagamento de propina ao delegado, nos relatórios da PF, gerou até reclamações de membros da organização criminosa. Eles alegavam que “Turco” recebia dinheiro tanto de Cachoeira, quanto dos donos dos cassinos para permitir o funcionamento dos bingos na região.

“Seu status é de integrante da quadrilha, atuando como verdadeiro fâmulo, vez que recebe ordens para agir ou se omitir e recebe, semanalmente, quantia em dinheiro como pagamento por seus serviços espúrios”, atesta o inquérito da PF.

A investigação da Polícia Federal também revela que em várias ocasiões membros da Polícia Militar fizeram um trabalho de “segurança privada” dos cassinos dos grupo de Cachoeira. Em 3 de dezembro de 2010, por exemplo, o major Silva, conforme as escutas telefônicas da PF autorizadas pela Justiça, disse que mandou uma viatura da Polícia Militar para apurar uma tentativa de assalto.

“Não desce agora não. Mandei uma viatura pra Ia. Vai passar lá agora a viatura tá? Daqui um pouco você me liga. Daqui a 10, que a viatura tá lá”, disse Silva, a um integrante da quadrilha ter reclamado de uma tentativa de assalto, frustrada pela falta de dinheiro no bingo.

Em outros trechos, as conversas telefônicas da PF apontam que membros da quadrilha pretendiam reclamar diretamente com o delegado Mauad sobre a ocorrência de assaltos na região. Mauad e Silva foram presos na operação Monte Carlo, em 29 de fevereiro deste ano.

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