Quinze anos, poderia ser um raio do sol. Uma menina lépida, com direito a erros e acertos, como os demais membros de sua espécie. Mas entre os iguais na sociedade que compomos, existem aqueles que não são tão iguais assim.
Como diria a poeta catarinense, Rosane Cordeiro, em seu livro De choros e velas: “nasceu com um buraco no meio”…
Essa bifurcação fisio/social pode se tornar avassaladora. Letal.
Em meu livro Somos Flores reflito: “Menina que rima com sina. Como explicar que o bom fica mau?”
Ana como já fui aos quinze anos.
Beatriz como tantas outras sonhadoras, desejosas de vida, experimentos, descobertas…
Agora um corpo em decomposição encontrado na bela Guaxuma, área úmida, de manguezal e maresia, transformada em reduto de horror.
Quando o feminicídio atroz se materializa além do criminoso temos a mentalidade criminosa. A fofoca perversa, a frase maldita e a condescendência tácita com aquilo que mata mulheres: machismo, misoginia, patriarcado, perversão sexual como trunfo.
Um crime de muitos culpados e culpadas, porque não basta ser mulher para combater essa praga assassina entre nós.
Temos que libertar a alma sensível e nos reconhecermos em cada vítima, no repúdio permanente ao feminicídio que sempre começa com uma ânsia de posse e usufruto.
Quem pediria perdão a Ana Beatriz?
Observando a tez juvenil de mais uma vítima desse crime antigo e respaldado, não haverá como isentar uma sociedade que acata o desrespeito à vida com naturalidade.
Tristeza entre os ventos do litoral norte alagoano, seguirá cantando seu nome no balançar dos coqueirais. Triste sociedade que sacrifica meninas na manutenção descarada da libertinagem masculina.
Um futuro de medo que não liberta nenhuma de nós sem luta, respaldo, legislação e cultura de sororidade.
Poderia ser um raio de sol. Mas é corpo disforme e luto perene, na lista do horror que envolve corpo feminino e sanha destruidora, como base do assassino.
Sentimento estranho de luto que precisa ser conduzido à luta.