Quem dá mais?

Continua sendo uma eleição mais favorável à oposição do que à situação. Permanece a divisão do eleitorado em três grupos: petistas, antipetistas e independentes

José Roberto de Toledo-Estadão

A entrada de paraquedas de  José Serra na corrida eleitoral em São Paulo altera alguns, mas não  todos os aspectos da sucessão paulistana. Continua sendo uma eleição  mais favorável à oposição do que à situação. Permanece a divisão do  eleitorado em três grupos: petistas, antipetistas e independentes. O  clima econômico positivo não prejudica o candidato federal. O que muda,  então?

1) Grau de conhecimento dos candidatos. Por comparação,  Serra é um gigante entre nanicos: 92% o conhecem bem (73%) ou ao menos  um pouco (19%), segundo pesquisa Datafolha de janeiro. Ele é quatro  vezes mais conhecido do que seu principal adversário, o petista Fernando  Haddad, e três vezes mais do que Gabriel Chalita (PMDB).

Serra  alcançou 21% das intenções de voto quando seu nome foi estimulado pelo  pesquisador (embora fique em 2% na pesquisa espontânea, porque disse e  repetiu que não seria candidato a prefeito). Não se sabe quanto disso é  fama e quanto é voto, mas os 21% lhe dão uma velocidade inicial muito  maior do que a de seus adversários diretos. Haddad e Chalita ainda  patinam entre 4% e 6%.

No caso de Serra, porém, mais  reconhecimento implica mais rejeição: um terço dos paulistanos disse que  não votaria nele, principalmente petistas e os mais críticos à atual  gestão municipal. Por isso, interessa a Serra uma campanha curta e  intensiva. Uma longa exposição, como aconteceu em 2010, só aumentaria o  risco de desgastar sua imagem. É o oposto do que seria a campanha do  PSDB se o candidato do partido fosse, por exemplo, Bruno Covas.

2)  Quem representa o governo do prefeito Gilberto Kassab. Se a articulação  de Lula para cooptar o PSD em São Paulo tivesse dado certo, o ônus de  defender a gestão kassabista ficaria dividido entre PT e PSDB. Com Serra  na disputa, o atual prefeito sai da esfera tucana para a petista. Serra  ganha a ajuda da máquina municipal, um tempinho a mais na TV e o peso  de falar bem de uma prefeitura malvista por 4 em cada 10 eleitores. O  saldo tende a ser mais negativo do que positivo, porque reforça sua  rejeição.

Kassab só virou prefeito por causa de Serra, que deixou a  Prefeitura com menos de dois anos de mandato para se eleger governador.  O tucano tem uma escolha a fazer: ignorar ou defender a atual gestão.  Os adversários não tornarão fácil a primeira opção – e ficar em cima do  muro já mostrou ser uma má ideia em 2010. Restará tentar melhorar a  imagem do governo Kassab durante o horário eleitoral na TV. Para isso,  Serra precisará de tempo de propaganda.

3) Quem galvanizará o  antipetismo. Serra sai na frente das pesquisas, mas não é certo que  chegue ao segundo turno. O fracasso de Geraldo Alckmin em 2008 relembrou  que quando o PSDB racha e tem pouco tempo de TV o candidato tucano  chega em terceiro ou quarto lugar – também foi assim em 1988, 1992, 1996  e 2000. A primeira missão de Serra é curar as feridas tucanas, depois  somar partidos coligados, e, só então, mirar no eleitorado antipetista.

O  primeiro turno em São Paulo deverá replicar as prévias republicanas nos  EUA: uma corrida para o eleitorado conservador decidir quem tem mais  chances de bater Barack Obama no turno final. Haddad não é Obama,  obviamente, mas o candidato do PT, fosse quem fosse, sempre chegou ao  segundo turno paulistano. Foram cinco vezes seguidas. Isso fecha a porta  para um candidato à esquerda do petista.

Quem mais ameaça tomar a  vaga do PSDB no segundo turno é o PMDB, pois tem o segundo maior número  de spots publicitários na TV, atrás apenas do PT. Se fechar alianças  com PSC e PTB, adotar um discurso crítico a Kassab, repisar a promessa  descumprida por Serra de não abandonar a Prefeitura e cativar o  eleitorado religioso, Chalita pode se viabilizar no final. Hoje, porém,  ele perde eleitores com a entrada do tucano.

São os spots,  estúpido! Por essas três razões, o nome do jogo é coligação. A primeira  briga é por tempo de TV – especialmente pelas propagandas de 15 a 60  segundos distribuídas ao longo da programação. Elas são o principal  trampolim para alcançar o eleitor a partir de 21 de agosto. É vital para  PT, PSDB e PMDB o tempo de outros partidos, que vão cobrar caro pelo  apoio. O leilão está aberto.

Quanto vale um spot de propaganda  eleitoral na TV em São Paulo? Os spots são diários e variam de 15 a 60  segundos. Eles devem ser distribuídos em quantidades iguais em quatro  faixas de horário, com diferentes audiências: das 8h ao meio-dia, do  meio-dia às 18h, das 18h às 21h e das 21h à meia-noite. Vão ao ar em  todos os canais. Na média, dá mais de R$ 250 mil por 30 segundos. São 45  dias de propaganda só no primeiro turno. Faça as contas.

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