Escolher passar por esta terra vestida de indiferença, por certo, não me define. E, por essa razão, o que parece comum, “natural” e faz parte do rol de costumes, nem sempre me passará despercebido, porque estou neste lugar.
Foi assim, caminhando pelas ruas de São Luís do Quitunde, no norte alagoano, que recebi a lufada sufocante da fumaça secular que acompanha nossas vidas, nesta região.
A queimada da cana é tão “naturalizada” quanto a “tiborna” da usina, que joga resíduos venenosos nas águas dos nossos rios. As águas vão se tornando estéreis a cada tempo, e a qualidade do ar para respirarmos agrega comprometimentos não estudados, nunca abordados, que sentimos em dificuldades respiratórias e alergias, também em silêncio.
As recentes queimadas criminosas que ocorreram em outros estados do país, despertou um debate ainda tímido sobre os efeitos da fumaça na vida das pessoas que respiram ar poluído por gases, e a lista é imensa, incluindo desde as complicações pulmonares como enfisemas ao aumento de possibilidades de derrames.
Em nossa terra alagoana não é “hábito” pensar no povo, em sua qualidade de vida, fatores de riscos, políticas de prevenção; mas, sempre se priorizou o empresário e o político amigo deste, que por sinal, sempre ganha as eleições e afina com a indústria canavieira a manutenção do mínimo para a população.
É sufocante viver sem esperança, sem expectativas de melhoras, sem poder respirar saudavelmente o tempo de vida que temos.
Mas será sempre pior jogar esse lixo tóxico para baixo do tapete. Pisar por sobre nossas próprias vidas com o desdém da ignorância servil.
Um dia, talvez, as coisas possam melhorar. Mas neste momento, alguém escreve e registra entre a denúncia e o lamento, a violência secular desse modelo de produção sobre nossos corpos brasileiros, alagoanos.