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Quatro pessoas são assassinadas por dia em Fortaleza

A tentativa de um grupo invadir o território rival é o estopim do “salve-se quem puder”. A auxiliar de cozinheira tem episódios frescos na memória. “É bala vai, bala vem… Minha vizinha morreu com um tiro na cabeça. Chegaram e mataram”, lembra Célia Lopes, 48. Ela convive há duas décadas e meia com o estigma (e a rotina) de uma Barra do Ceará violenta. Uma Barra do Ceará onde 63 pessoas foram assassinadas de janeiro a outubro deste ano. Uma Barra do Ceará com o maior índice de homicídios dolosos (com intenção de matar) numa Fortaleza com 1.340 ocorrências registradas nos dez primeiros meses de 2012. Média de 4,39 casos/dia.

A capital cearense supera a dita cidade mais violenta do Brasil. Até 31 de outubro, a capital paulista contabilizava 1.135 assassinatos, segundo a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSPSP). No comparativo estadual, porém, SP lidera com folga. Teve 4.396 homicídios contra 2.887 casos em 155 municípios daqui (9,46/dia). O POVO fez a análise após consultar relatórios disponibilizados na Internet pela SSPSP e pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS).

Em Fortaleza, nos dez meses estudados, as mortes ocorreram em 106 dos 119 bairros reconhecidos pela Prefeitura (ver mapa). Janeiro foi o período mais violento, com 163 assassinatos em 67 localidades e uma greve da Polícia Militar que inflou os índices já na primeira semana de 2012.

O Comando da PM do Ceará garante ter o controle da situação. E pondera quanto às estatísticas de SP, que tem uma população 4,5 vezes maior que a da capital cearense e apresenta 15% menos casos que Fortaleza. “Acho que tem que se repensar”, diz o comandante-geral, coronel Werisleik Pontes Matias.

O militar atribui a gravidade do cenário na Barra do Ceará ao confronto de gangues e ao tráfico de drogas, também apontado por ele como preocupante no resto da cidade. “Se tirássemos o homicídio oriundo da droga, você ia ver que a taxa era lá embaixo. Porque quem é mais vítima de homicídio é traficante ou gente envolvida com o tráfico. O crack é um desafio mundial e não só do Ceará. O índice de hoje é alto? É alto. Precisamos melhorar? E muito! Mas, fora de controle, não está. Estamos numa curva decrescente (de homicídios). Agora…querer que não exista nenhum homicídio é utópico. A Barra tá um céu hoje em dia. E a tendência é melhorar porque, das capitais do Nordeste, Fortaleza é a mais calma”, sublinha Werisleik.

Pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ricardo Moura diz que o mapeamento feito pelo O POVO é similar a uma cartografia da UFC de meses atrás. “Se não mudou muita coisa, mostra que não foram feitas ações estruturais que resolvessem ou diminuíssem o problema, que é localizado. A dinâmica da violência permanece, se tem o diagnóstico, mas não se tem um conjunto de ações de Governo”, critica.

Moura pondera a importância de várias secretarias agirem em conjunto na implementação de políticas públicas educacionais, de esporte e lazer etc. Apenas reforço policial não significa, necessariamente, redução de casos. E arremata: “é importante também a sociedade perceber isso como problema. Ela precisa se indignar por cada caso. Um grande número de jovens está morrendo”.

As informações são do jornal O Povo

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