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Qual história você dignifica?

Discursos podem construir ou destruir um povo?

Pelo menos moralmente, acreditamos que a força discursiva garante efeitos significativos naquilo que somos ou acreditamos ser, despejando a partir disso, o ácido corrosivo ou a elevação identitária de uma comunidade.

Tomando como exemplo a facilidade com que julgamos e condenamos os crimes dos pobres enquanto justificamos e aceitamos os crimes dos ricos, percebemos que a maioria de nós está contaminada pela ética do não ter ética, quando possui poder e dinheiro.

Não ter dinheiro se tornou sinônimo de invisibilidade social, no agregar das vulnerabilidades, desde a fome à representação da ameaça ao coletivo. Somos instigados a sentir medo do pobre, que quando é muito perigoso chega a cometer crime de porte individual. Mas, do rico, somos ensinados a buscar “amizade”, e nem levamos em conta que é exatamente da camada que dispõe de dinheiro e poder que se derramam os crimes que afetam multidões.

Para nós, o assalto é um crime terrível, pois pode nos levar o celular!

Mas o desvio de dinheiro feito por uma Assembleia Legislativa não importa, mesmo que leve milhões dos cofres públicos, que deveriam servir a finalidades assim caracterizadas.

Porque não associamos o crime do rico, do político, com os direitos que nos são negados, continuamos “amigos” dos poderosos, e perseguidores dos famintos e viciados.

Alguns de nós até sabem que o processo de corrupção afeta a sociedade de maneira absoluta, mas prefere sacrificar essa compreensão na busca por pequenos espaços, no intuito de ganhar as migalhas, as cortesias, os convites, os tapinhas nas costas…

Mas a massa não entende muito bem de lei, decifra apenas o peso que tem a lei do mais forte; conhece seus efeitos práticos, e legitima o que vem de cima. Somos esse paradoxo histórico-social em forma de perseguição ferrenha às vítimas e bajulação enjoada aos algozes.

Mas os vestimos de autoridade, para amenizar os reclames da consciência.

Quando a realidade machuca muito, aceitamos mudar até os nomes dos nossos deuses, concordamos com o sincretismo, disfarçamos…e de tanto fazê-lo, confundimos tanto que vamos gerando horror a tudo que já fomos, para eleger a dignidade de ser essa indefinição perante um simples ato de cidadania qualquer. Somos o medo de ser nós mesmos.

Por isso brincamos de ricos junto com outros pseudopoderosos com quem convivemos. Medrosos como nós mesmos, incapazes de assumir a ancestralidade cortadora de cana, plantadora de mandioca, pescadora na Manguaba e na Mundaú, falam a língua do poder com todos os seus sotaques.

Os maiores perseguidores de autônomos são os feitores do século XXI: pobre que pensa ser rico, age como se rico fosse e combate a si mesmo no outro que mata.

Trançado complexo, mas humano, compreensivelmente forjado pelo sistema dominante, mas que urge ser desmascarado em respeito aos que tombaram no tronco, no eito, no meio da praça…

O que dignifica é ser amigo de si mesmo! Da história que carrega em si, representação dos que sobreviveram e deixaram um rastro de sonho em um sobrenome comum.

Meus ancestrais desbravadores de rumos me orgulham, e em seus nomes mantenho o meu honrado pela ética do respeito à vida, ao trabalho, ao ideal.

Assim vivo, acreditando nas verdades que os meus olhos iluminados de lágrimas conseguem ler: o valor do ser.

 

 

 

SOBRE O AUTOR

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