Produtos orgânicos são alternativa de alimentação saudável

Zero Hora

Você, que toma bastante água, pratica exercícios físicos, visita o médico regularmente e procura se alimentar bem está seguro de que está fazendo muito pela sua saúde? Pois há um aspecto que você não vê e pode estar lhe prejudicando a longo prazo: os agrotóxicos usados na produção de alimentos.

Dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) registram que a presença de produtos químicos nos alimentos brasileiros cresceu 190% em relação ao ano anterior. Naquele ano, a América Latina consumiu 22% da produção mundial, sendo 19% no Brasil, o maior mercado de agrotóxicos do mundo.

A informação é de um dossiê publicado recentemente pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e traz um alerta sobre os efeitos dos agrotóxicos na saúde humana. Segundo Luiz Augusto Fachini, presidente da entidade, o estudo poderá orientar políticas e pesquisas dos órgãos públicos no país.

— Está claro que o governo deve investir na produção de alimentos limpos como forma de proteger a população — diz Facchini.

Desde 2010, passou a vigorar a certificação de produtos orgânicos do Ministério da Agricultura (Mapa). A partir de então, o selo da certificação orgânica ajuda o consumidor a não ser enganado ou se confundir na hora da compra. O regulamento estabelece novas modalidades de certificação, como a participativa, em que o próprio agricultor certifica outros agricultores por meio de visitas às propriedades.

Reunidos em um Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade (Opac), os agricultores, consumidores e técnicos da Rede de Agroecologia Metropolitana reúnem-se uma vez por mês, em Porto Alegre, para visitar e fiscalizar as lavouras de alimentos orgânicos. A última reunião, no dia 22, ocorreu na propriedade de Salvador da Silva, o Dodô, no Lami.

— Uma planta é um arsenal de saúde. Pode servir de alimento, mas pode ter vários outros fins, até remédio — afirma o agricultor.

É por isso que o mercado vem tendo um crescimento de 40% ao ano.

Segundo o chef de cozinha Cesar Sperotto, da Organic Baby, as pessoas estão buscando nesse segmento alternativas para tratamentos de saúde, como câncer, hipertensão ou doenças relacionadas ao consumo de glúten e lactose.

— Essa não é mais uma tendência, é um caminho sem volta — afirma Sperotto.

Saúde em primeiro lugar

Preocupação com o ambiente ou com o lado social da agricultura podem até ser relevantes para quem frequenta a feira. Mas, segundo os produtores, é o cuidado com a saúde o principal argumento que atrai o cidadão.

— Muitos chegam com recomendação médica para comer orgânicos, porque estão fazendo quimioterapia ou porque tem alguma alergia — conta o agricultor José Matias, o Jalo, de Eldorado do Sul.

Jalo explica que comprar na feira tem um diferencial em relação aos produtos do mercado: a produção é ecológica. No sistema orgânico, afirma, não se usa agrotóxicos. Mas, no sistema agroecológico, são levados em conta todos os aspectos da produção, desde o descarte do lixo até a saúde do agricultor. Tanto que a produção de Jalo serve, primeiro, para alimentar a família. O excedente é vendido.

O engenheiro agrônomo da Emater Ari Uriartt relembra que os agrotóxicos surgiram de adaptações dos produtos bélicos para uso na agricultura moderna. O problema, segundo ele, é que esses produtos comprometendo os nutrientes dos alimentos:

— As pessoas pensam que estão comendo algo saudável, mas na verdade não sabem que estão comendo comida morta.

COMO IDENTIFICAR UM PRODUTO ORGÂNICO

Para serem denominados orgânicos, os alimentos precisam ser certificados de acordo com a Lei Federal nº 10.831, que regulamenta o sistema orgânico de produção. Entre outros pontos, um alimento orgânico deve empregar, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos em vez de materiais sintéticos, e eliminar o uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização.

Selo
Com o mercado organizado, fica mais fácil para os consumidores identificarem quando a produção é, realmente, orgânica.

Nas feiras e supermercados, os produtos orgânicos são identificados por rótulos e selos. Mas esses selos também precisam ser sua autenticidade certificada. Atualmente, existem cerca de 40 entidades certificadoras atuando com produtores orgânicos no Brasil.

Quando os produtos não forem produtos devidamente rotulados, como no caso das feiras livres, o consumidor deve pedir ao produtor um documento que comprova seu cadastro junto ao Mapa, explica o agrônomo Fernando Oliveira Amaral. Nestes casos, normalmente os produtores são associados a uma instituição credenciada e portam identificação.

As diferenças

O aspecto
Às vezes, o orgânico é menor, e nem sempre tão bonito quanto o convencional. Isso ocorre porque a ausência de produtos químicos não permite controlar cor, tamanho e formato. Isso varia de acordo com a espécie e as condições de produção, e nada impede que um morango grande, bonito e viçoso seja orgânico.

O sabor
Quem consome produtos orgânicos garante que eles são mais saborosos, mas de modo geral — e como se trata de uma avaliação totalmente subjetiva e que depende do paladar de cada um — não é possível fazer grandes distinções entre o sabor de um alimento orgânico e um não orgânico.

A qualidade
O orgânico carrega mais nutrientes, vitaminas e dura mais. Uma alface orgânica, por exemplo, permanece em boas condições por até uma semana. Já uma alface comum dura, em média, três dias. Além de não conter agrotóxicos, aditivos, aromatizantes, estabilizantes e conservantes.

O preço
No Brasil, o custo médio é de 30% a 40% maior do que dos produtos convencionais. Isso ocorre porque a escala de produção é mais baixa e limitada em relação à demanda. Nas feiras, porém, é possível encontrar itens por valores similares.

Fonte: engenheiro agrônomo Luis Paulo Vieira Ramos, da Emater

Danos psiquiátricos são os efeitos mais graves dos agrotóxicos

O dano à saúde vai depender de qual tipo de exposição se tem ao agrotóxico, explica a médica e pesquisadora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Neice Muller Xavier. Como o produto químico penetra na pele, pode atingir a dona de casa, o agricultor e o consumidor. Segundo ela, pesquisas comprovam que problemas mais graves envolvendo o uso de agrotóxicos estão associados ao sistema nervoso e à saúde psiquiátrica de agricultores expostos diretamente ao veneno. Para quem consome, em geral, o efeito é indireto e mais demorado:

— Vai depender da bagagem genética de cada um — explica ela.

No ranking de utilização de agrotóxicos, o Rio Grande do Sul está à frente dos demais Estados brasileiros, e a cidade de Bento Gonçalves figura como a que mais utiliza defensivos no país. Porém, Neice explica que aqui ocorre o registro há mais tempo, e esse fator pode evidenciar mais casos. De qualquer forma, diz a pesquisadora, “é uma salada química”.

Segundo Neice, pesquisas médicos estão deixando claro que a exposição a agrotóxico é um fator de risco para doenças como o câncer. Algumas neuropatias (problemas nos nervos periféricos) são evidenciadas quando ocorre contaminação por organofosforados (substâncias químicas que contêm carbono e fósforo) e carbamatos (princípios ativos de inseticidas comerciais). Também há evidências científicas que associam casos de suicídio e depressão entre os agricultores que utilizam agrotóxicos em suas lavouras.

Feiras são atrativo para consumidor

A feira orgânica é parada obrigatória para a educadora física Tatiana Redivo. Sempre que pode, ela aproveita os horários livres para dar uma passada em uma delas. Em casa, é a responsável pelo rancho da família, pois, assim, garante a saúde à mesa.

— Penso em evitar problemas futuros. A gente tem muita informação hoje em dia, então é melhor investir.

Segundo Tatiana, quem vai à feira deve ter em mente que determinados produtos não estarão disponíveis em todas as épocas. Para ela, isso é irrelevante, se considerar o sabor, a qualidade e a pureza dos alimentos orgânicos.

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