Primo de professora atropelada por bêbado em cavalo desabafa

Do site Preto no Branco

Em sua página do facebook, Igor Reis, designer gráfico, primo de Kelly Cristine, que morreu no último domingo (8) atropelada por um cavalo na Festa do Vaqueiro de Curaça, publicou um desabafo sobre a tragédia que tirou a vida da professora e na publicação, o jovem fez algumas provocações pertinentes e que merecem uma reflexão.

Veja texto na íntegra:

É um absurdo como a vida humana perdeu o valor. Uma pessoa que foi atropelada por um cavalo é culpada por “não ter atenção”. A mulher apanha do seu companheiro e é culpada por estar com ele “porquê quer”. Outra é estuprada e a culpa é dela por usar “roupas curtas” ou “dar liberdade”. O pobre que morre na favela vítima de bala perdida tem culpa porquê, “mora lá porque quer”.

Aonde vamos parar com tamanha ignorância?

A professora Kelly Cristine foi morta por um cavalo?

Não! Ela foi morta por um irresponsável que estava bêbado em cima de um cavalo (animal irracional) que o controlando fez com que o animal a atropelasse, com o impacto, ela caiu e bateu com a cabeça no meio fio da calçada e morreu logo depois.

Ontem no jornal da noite, a TV São Francisco fez uma reportagem que passou a ideia de que a culpa da morte foi dela, por não ter “tomado cuidado com o cavalo” e “estar desatenta”. Isso não me surpreende, mais uma vez a mídia televisiva mostrando a notícia de acordo com o interesse maior. Ao final da reportagem, ainda destacou que a festa dos vaqueiros de Curaçá é tradição e existe a num sei quantos anos, reforçando a idéia de que você pode ir pra lá, isso foi apenas uma fatalidade, não irá acontecer com você. Os blogs de notícia destacando que “um cavalo atropelou uma mulher”, ele não fez isso sozinho, existia uma pessoa o controlando ou o descontrolando, não se dão ao trabalho de investigar. Que ridículo!

Frequento essa festa desde os 12 anos de idade, só não fui esse ano, sempre houve esse tipo de ocorrência, vaqueiros bêbados jogando seus cavalos pra cima das pessoas. Não tenho recursos e muito menos autorização para isso, mas queria saber quantos casos parecidos foram formalmente registrados no hospital da cidade. Quantas pessoas já não levaram coices, foram pisoteadas e foram parar no hospital? Será que alguma outra já morreu?

Nas vezes que eu fui para a festa dos vaqueiros de Curaçá, foram varias as vezes que sai de perto ao ver um vaqueiro bêbado vindo com o cavalo pra cima de mim. E se eu não tivesse visto? Poderia ser eu o atropelado e morto.
Foram varias as vezes que vi pessoas passarem por mim sendo levadas nos braços para o hospital por acabarem de receber um coice, no rosto ou na barriga, nas costas, na perna, outras que tinham sido pisoteadas.

Não foi uma fatalidade!

Foi falta de organização, falta de investimento em estrutura e segurança, falta de conscientização e educação.

A prefeitura de Curaçá emitiu uma nota lamentando a morte e dizendo que a cidade foi sinalizada, indicando os locais para a passagem dos animais.
Tudo bem. Adiantou? Uma pessoa morreu!

Fiscalizem mais!
Invistam mais em segurança!
Eduquem os vaqueiros!
Criem campanhas para conscientização!
Façam mais do que fizeram!
Se não, irão morrer mais pessoas vítimas da irresponsabilidade de alguns e pela falta de segurança oferecida pela cidade que sedia o evento.

Pessoas que leram até aqui, valorizem a vida humana.
Nenhuma pessoa é atropelado por um cavalo, por ser desatenta. Nenhuma mulher é estuprada, agredida e morta porquê quer. Nenhum morador de favela morre porquê quer. Nenhuma pessoa é assaltada por ser desatenta.

Muito cuidado ao ler uma notícia e sair por aí culpando a vítima.

Não chegue a uma conclusão apenas por ler uma matéria em um blog ou por assistir uma reportagem na televisão.

Seja crítico, saiba de um fato, sempre haverá um interesse maior por trás daquela notícia ou ação.

Infelizmente a mídia funciona assim. Se existir uma mídia de notícias que seja 100% honesta, imparcial, que não atenda a interesses de terceiros e sim a coletividade e o bem de todos, me passa o contato que vou segui-la!

Valorizem a vida humana e parem de culpar as pessoas por serem as vítimas.

Um beijo no seu coração!

Igor Reis, designer gráfico, primo de Kelly Cristine 

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