Pré-candidaturas esquecem Maceió pelo fetiche das redes

Por Silvio Rodrigo

Que o marketing digital agora é parte da vida política e social na arena pública nós sabemos e já convivemos exaustivamente com suas dinâmicas, mas toleraremos tamanho desinteresse pela cidade em prol de plataformas individuais de promoção política da própria imagem?

Não é muito fácil estabelecer se foi algum dos espectros políticos, hoje muito frágeis mas que desfilam na vida pública, que inauguraram o papel da comunicação política nas campanhas eleitorais e de convencimento da sociedade. Mas, por outro lado, se cada disputa se concentra na promoção da personalidade individual sobra um elemento principal na construção de um projeto de longo prazo e que afeta a vida comum: a cidade.

Ela deveria ser o elemento central e aglutinador de características materiais que fundamentam os projetos políticos e suas pré-candidaturas. Mas o debate público, no entanto, engole enredos e narrativas universais sobre a moralidade dos personagens em disputa, a exaltação de suas pretensões e arroubos públicos de “sensatez”.

Já que não existe o “como deveria ser” no fazer político e o que molda suas características são as condições materiais e ideológicas do momento, vamos focar no que está sendo e que continuará a ser se não elevarmos, pela pressão, projetos mais robustos para a capital alagoana.

Este movimento só possível, porém, se pudermos observar que a liquidez política das pré-candidaturas beneficiam alguns conglomerados de interesse e que forças políticas específicas aglutinam importância aparentemente sutil, mas bem posicionadas no jogo.

Temas fundamentais são deixados de lado:

– Déficit habitacional
– Mobilidade urbana
– Desigualdade de investimentos em áreas da cidade
– Racismo ambiental
– Mitigação dos efeitos das mudanças climáticas
– Esquecimento de bairros inteiros e do patrimônio arquitetônico
– Atualização democrática do Plano Diretor, entre outros.

O espaço urbano se transforma no abstrato lugar onde as coisas acontecem, parece pois que a única força que movimenta construções e empreendimentos é a “natureza” ou ainda o pulsante desejo de progresso das classes empresariais e governantes, mas será? Nesta equação que nada pulsa tudo retorna a setores que se beneficiam da natureza e do espaço geográfico para enriquecimento pessoal ou as condescendências habituais entre classes e grupos iguais.

Enquanto os ecos do moralismo vicejam na Câmara Municipal conservadora de Maceió, funcionam, sorrateiramente, os lobbies do setores imobiliário e do turismo, sem falar das grandes empresas atraídas para a capital pela mão de obra barata, pouco exigente e sem organização política definida.

Mas as redes sociais estimulam cultos a personalidade, as frases de efeito político que marcam e simulam emoções em massa contra um inimigo fantasma, mas é que elas trazem efeitos imediatos de presença política fictícia.

Mas é justamente nesta mesma Câmara Municipal que jazem os fantasmas, cujos os sussurros não são o suficiente para encorajar a classe política aberrante a imprimir esforços para resolver a dificuldade indigna de enterrar entes queridos em cemitérios públicos em Maceió. Não se resolve, joga para frente, podem esperar.

Uma parte grande da cidade afunda, outra parte cresce desordenadamente, formando grande aglomerados de gente desassistida, mas bom, a cena é corriqueira, podem esperar. Trânsito e espera, que são questões absurdamente latentes e difíceis na vida da maioria da capital, não recebem a devida atenção e os projetos não passam. Os maceioenses podem esperar.

Mas é o gozo da imagem nas redes que seguram figuras nefastas em seus postos assépticos e suas mãos dissimuladas para o que é público.

Três fotos na redes sociais simulam trabalho, dois vídeos curtos com frases de efeitos fingem vitalidade política: nenhuma destas peças imagéticas refletem a morbidez pública de inações, despreparos e compromissos firmados com o subdesenvolvimento, a submissão social e o empobrecimento do debate público sobre cidade.

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