BLOG

Pré-candidato do PSOL quer atrair insatisfeitos das eras Rui e Cícero Almeida

13384792_1056389871105955_982081407_n (1)

Com o discurso da terceira via (nem a reeleição de Rui Palmeira nem o voto a Cícero Almeida), o PSOL tem como pré-candidato a prefeito o professor de História, Gustavo Pessoa. Ele investe no campo das esquerdas em busca dos eleitores insatisfeitos.

Acredita que a Lava Jato mostrou os conchavos no Brasil- e isso pode gerar um “debate importante” e acabar com essa “falsa polarização” nas campanhas.

Veja entrevista:

O PSOL entra na disputa pela Prefeitura da capital com a polarização Rui Palmeira/Cícero Almeida. Tem sido assim desde a aprovação da reeleição- a polarização- e a vantagem sempre está com quem tem a máquina nas mãos. Fale sobre isso.

Uma candidatura do PSOL tem diante de si desafios enormes e um deles é o enfrentamento do poder econômico contra candidaturas que, naturalmente, canalizam pra si grande parte das doações de grupos econômicos que se veem representados pelos dois projetos citados.

A narrativa da Lava-Jato choca por revelar o caráter promíscuo das relações entre agentes públicos e privados que tem origem nos conchavos eleitorais.

Poucos momentos foram tão adequados para uma candidatura que não referende tais práticas e busque um diálogo sensato a partir de ferramentas como a Internet e suas redes sociais.

Penso que o sistema político brasileiro vai ser objeto de debates importantes no próximo pleito e o eleitor tende a punir com o voto essa falsa polarização e as campanhas faraônicas.

A esquerda teve uma chance histórica com Ronaldo Lessa durante oito anos. Ao final, ele escolheu um usineiro para sucedê-lo ao Governo, representação de um setor na contramão do discurso social. A esquerda errou com Lessa?

Não penso que a esquerda tenha errado com Ronaldo; é necessário resgatar o momento histórico que tornou possível a sua ascensão política.

No debacle do governo Suruagy havia em Alagoas uma frustração enorme para com as nossas representações tradicionais.

Ronaldo soube, naquele momento, apesar dos poucos recursos econômicos, canalizar essa insatisfação.

Mas falhou ao desistir de mobilizar a sociedade alagoana em torno de um projeto que apontasse para a ruptura com esses setores tradicionais.

Nesse ponto ele optou pela recomposição com os setores oligárquicos e queimou seu capital político.

Hoje está sendo punido pelas urnas.

Lessa se uniu a Collor depois a Renan Calheiros, agora se dividem em Maceió. É uma estratégia? É um projeto de poder em jogo?

A sua pergunta já traz em si própria uma resposta.

Os atores em questão lutam desesperadamente por sobrevivência política num momento em que o poder judiciário alcançou uma autonomia, de tal maneira, que aponta em última instância para extinção de toda uma casta política.

A sobrevivência desses atores políticos está indissociavelmente ligada a manutenção dos aparatos de poder em todas as esferas.

Para a tristeza da sociedade alagoana, é apenas uma disputa pelo poder que escamoteia a semelhança dos projetos e dos grupos econômicos que lhe dão sustentação.

O PSOL defende a tese do golpe contra Dilma Rousseff. Os aliados de Temer sustentam que o impeachment é um dispositivo constitucional. Qual o sentido, para o eleitor, de defender que houve um golpe no Brasil?

O Governo de Michel Temer jamais vai se livrar da pecha da ilegitimidade.

O impeachment é um dispositivo constitucional que visa afastar um presidente por crime de responsabilidade.

Qualquer gestor mediano sabe que a assinatura de créditos suplementares não caracteriza esse crime.

O que houve recentemente no Brasil foi uma eleição indireta entre Michel Temer e Dilma Roussef.

Nós, do PSOL, fizemos oposição sistemática a política econômica do governo Dilma e denunciamos o toma lá da cá que igualou o PT a todos os governos pós- redemocratização.

A nova sociedade exige transparência nas relações políticas, mas o governo Temer é a reafirmação dessas práticas amplamente rejeitadas.

Aliás, nunca um governo conseguiu ser a expressão tão oposta daquilo que a sociedade desejou.

Em menos de mês, a sociedade brasileira assiste, num misto de frustração e estarrecimento, um governo letárgico e constituído basicamente por corruptos que foram flagrados com o batom na cueca tentando sabotar a lava-jato.

Um governo com uma base de sustentação moralmente apodrecida, amparada em ministros que substituíram o curriculum pela Ficha criminal.

Não me espantaria se Temer abolisse as segundas-feiras do calendário a fim de interromper a queda de ministros.

O PSOL foi fundado no rastro da insatisfação de setores da esquerda com o Governo Lula. Esteve associado à imagem de Heloísa Helena, depois o partido não apoiou Heloísa na disputa ao Senado em Alagoas. Hoje, sem Heloísa, o PSOL é o quê?

Tenho enorme respeito pela trajetória política pela ex-senadora Heloisa Helena.

Contudo, entendo que hoje, o PSOL respira uma atmosfera mais leve e permeável a relações mais democráticas.

Um partido como o PSOL não pode ser um mero apêndice para um projeto político pessoal, por maior e mais bem preparada que seja essa liderança política.

Nossos quadros devem inculcar uma cultura de respeito e confiança nas nossas instancias partidárias e devem, acima de tudo, ter uma relação de fidelidade e coerência com o nosso horizonte programático.

Mostra a História que partidos são menores que nomes. Foi assim com Getúlio Vargas, Carlos Lacerda, JK, Collor e Lula. Lula, durante anos, foi um dos maiores representantes da esquerda, mas hoje sua imagem sofre profundo desgaste. Quem, das esquerdas, ocupa seu lugar?

O personalismo revela a fragilidade das instituições democráticas e o esgotamento do sistema político.

Ao desprezar o debate programático o eleitor estabelece relações messiânicas com líderes que se colocam acima das instituições.

Isso é uma cultura politica nociva pro nosso país.

Estamos assistindo o ocaso dessas lideranças, o que gera uma sensação de vazio e fadiga que aponta perigosamente para a desesperança.

A reconstrução da esquerda brasileira pressupõe uma disposição franca em torno da construção de um projeto progressista, que possa ser sustentado por lideranças jovens e que não sejam reféns do culto personalista.

Jovens lideranças, como os deputados Marcelo Freixo e Jean Wyllys, além do prefeito Fernando Haddad, em que pese a sua permanência num aparato partidário envelhecido, representam bem esse perfil.

A esquerda envelheceu e a direita se renovou?

Não acho que a direita brasileira tenha se renovado…temos diante de nós os mesmos quadros e o mesmo espectro partidário desenhado na redemocratização.

O dado novo é o surgimento de movimentos organicamente estruturados em torno de uma agenda liberal.

Porém, convém lembrar que a base social mobilizada por esses movimentos tinha como apelo fundamental o afastamento da presidente Dilma.

Não acho que uma agenda ultra-liberal de redução do Estado tenha hoje um apelo mobilizador em nossa sociedade.

Por outro lado, o PT fez um caminho semelhante ao de outros partidos de esquerda e trocou a mobilização permanente das suas bases pela cooptação dos movimentos sociais e pelas relações promíscuas com o parlamento.

Reconstruir uma esquerda viva com uma agenda radicalmente democratizante é o caminho que está colocado diante de nós nesse momento histórico.

A experiência do “Podemos” na Espanha pode ser objeto da nossa reflexão.

O quê o PSOL quer para Alagoas?

O PSOL deseja ser um polo capaz de reunir todos aqueles que hoje não se sentem representados pelas lideranças e partido políticos tradicionais e, que estão frustrados por perceberem que o PT já não é capaz de mobilizar energias transformadoras.

As pessoas comuns percebem a contradição latente no partido dos trabalhadores ao denunciar um golpe na esfera federal, mas insistir em continuar aliado a esses mesmos golpistas na esfera estadual.

Tenho inúmeros amigos que ainda permanecem no Partido dos Trabalhadores que, certamente, não se sentem confortáveis com essa posição.

O PSOL luta para ser essa alternativa aos setores progressistas e poder liderar uma agenda radicalmente transformadora no Estado, que jamais será possível a partir de alianças e pactos com oligarquias conservadoras, que historicamente recorreram a violência e ao clientelismo para se perpetuarem no poder.

 

SOBRE O AUTOR

..