Estou falando na primeira pessoa, considerando a intimidade existente entre nós, enquanto pessoa que escreve e pessoa receptora da escrita, porque assim santificamos o ato sagrado da interpretação textual, no relacionamento feliz da comunicação criativa e libertária.
Voltando ao termo chave desse artigo, eu confesso que quando houve um verdadeiro estouro do empoderamento feminino eu também embarquei na onda.
Fui uma das divulgadoras daquilo que à época percebia como revolucionário e necessário para afirmar território de gênero, principalmente neste patamar disputado que é a escrita politicamente posicionada na crítica social.
Mas como sói acontecer com pessoas que não se limitam a repetir jargões, seja à direita ou esquerda, fui percebendo uma sutileza liberal que arrastava para longe dos propósitos de sororidade ao elevar uma imagem de vitória muito ao gosto do mercado, do patriarcado, porque o modelo desse tal empoderamento casava avanços políticos com padrões de beleza (que são velhos conhecidos nossos) e lugares de destaques sociais (que não permitem acesso a todas nós), construindo uma base feita por mulheres emocionadas que deveriam louvar aquelas empoderadas.
Passei para o lado do grupo que analisa. Tomei decisões. Sigo escrevendo com autonomia mas distante das ideias de que isso me traz um poder que outras estejam impedidas de ter, conferindo um tipo de sucesso pessoal sobre condições alheias desfavoráveis.
Mulheres autônomas para pensar e decidir não precisam de plateias compostas por mulheres “menores”. Antes, o propósito passa pelo fortalecimento de iniciativas que permitam outras mulheres libertarem os laços que as prendem em situações que as desfavorecem, seja em relacionamentos, ideias sobre si, formação intelectual, ocupação de territórios comuns nas artes e na política.
Assim como nos permitimos escolher qual termo nos contempla, obviamente não fazemos dessa matéria lugar de disputa, dissenção, agressão a outras que sintam plenitude na ideia de empoderamento, mesmo quando sabem que é uma proposta liberal.
Liberdade para errar e acertar também é um requisito interessante, mas vale compreender que nem todas as mulheres estão aderindo a causas de gênero por sororidade, e dentro deste miolo capitalista de relações sociais, muitas batalham pelo seu próprio lugar ao sol, afinadas com estas liberalidades que nos individualizam em plataformas de poder na reafirmação das verdades capitalistas.
Nestas eu não voto, a elas não aplaudo, mas reconheço suas escolhas e respeito nossas distâncias.
Me importa agora deixar explicado minha recusa ao termo e acenar para as companheiras que sigo agregada às causas feministas por acreditar nos potenciais libertadores que possuem.