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Por que o silêncio das entidades sobre o ‘Menos Médicos’ diz muito sobre o Brasil?

A mesma campanha que entidades médicas pelo país faziam contra a vinda dos profissionais da saúde cubanos ao Brasil – e até mesmo à implantação do Mais Médicos – é inversamente proporcional ao atual mutismo para o preenchimento de vagas de brasileiros no programa, só que agora sob Jair Bolsonaro.

Claro que as cobranças dos profissionais são justas: mais infraestrutura, mais investimentos em locais distantes no Brasil na saúde, em busca da dignidade. Não dá para se esperar médicos atendendo pacientes eternamente sob improviso em regiões desoladas, como se estivéssemos em permanente estágio de guerra .

Porém, o silêncio das representações médicas- e até mesmo o desprezo por seres humanos destes rincões do Brasil, desassistidos de tudo- causa espanto. A Carlos Madeiro, o vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde e presidente do Conselho de Secretários de Saúde do Pará, Charles Tocantins, disse que os brasileiros, ao saberem da distância dos locais para atendimento de pacientes, o difícil acesso em muitos casos e as condições de trabalho, rapidamente desistem de ocuparem as vagas, antes preenchidas pelos cubanos.

“Quando você vê e inscreve para um município, acha que vai trabalhar na sede. Aí, quando descobre que é um local a 100, 200 km de chão batido ou de barco, desiste da vaga”, explica.

Lembrando, gente, que os representantes dos médicos, além de receberem com gestos de xenofobia os cubanos em 2013, criticavam os Mais Médicos sob Dilma Rousseff. A mudança do cenário político- Bolsonaro virou candidato oficial destas lideranças- rapidamente alterou a posição delas sobre o tão criticado programa, mas sem que estes mesmos representantes saíssem, em campanha, pela população mais pobre e sem saúde.

Daí a razão dos cubanos entrarem sob pedras em 2013 e saírem homenageados 5 anos depois. Os sindicatos e associações médicas, o Conselho Federal de Medicina e órgãos semelhantes depõem contra a atuação dos próprios profissionais brasileiros. Já que Medicina, desde quando éramos Colônia, além de ser exercida pelos herdeiros da elite brasileira, também significava status e prestígio financeiro.

E só.

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