Por que as mulheres são esquecidas pela história?

Mais cedo ao visualizar as redes sociais li um texto que me chamou bastante atenção. Havia uma frase que terminava com as seguintes palavras: “… o mundo tem medo de mulheres extraordinárias”. Parece bobo, mas tais palavras me levaram a uma profunda reflexão.

O que seria “extraordinária”?! A palavra é um adjetivo originado do latim “extraordinarius”, que quer dizer extra, fora de ou além de. Bom, existem inúmeras possibilidades, mas entendo que seria algo único, muito diferente do comum, surpreendente e magnífico. Sou extremamente apaixonado pela ciência, fascinado pelo universo e seus mistérios, por todo tipo de vida e seus complexos mecanismos. A incessante busca pelo conhecimento trás sentido a minha vida e muita satisfação pessoal e foram essas buscas e pesquisas que me fizeram pensar no quanto nosso mundo deve às mulheres.

Um conjunto de reações químicas tornaram possíveis a realização de processos fisiológicos capazes de permitir a possibilidade da existência do que chamamos de Vida. Palavra esta que detém uma enorme variedade de significados seja no ponto de vista científico, filosófico ou subjetivo.

Uma coisa é certa, ela é repleta de mistérios, enigmas, poesia e paixão. Mas não há como falar em vida sem lembrar-se do amor maternal, talvez o ápice desse sentimento nesse mundo. E tão lindos quanto o amor de mãe, é a capacidade da mulher de suportar todas as alterações físicas e fisiológicas a partir da concepção, para o resto de suas vidas.
O crescimento de um novo ser dentro do útero deixa evidente o aumento da silhueta abdominal da mãe, isso acaba repercutindo em órgãos adjacentes. E não é para menos: um órgão que antes pesava em torno de 50 a 60 gramas, pode pesar mais 1 quilo. Contudo a mulher-mãe suporta firme.

Mas não é só isso. Durante o processo, sob ação hormonal, ocorre a proliferação dos canais galactóforos, algo que determina o aumento do volume dos seios que passarão a ter uma belíssima função: produzir leite para alimentar a vida que está em formação. Vários hormônios passam a atuar em seu organismo. Ela aumenta de peso, ocorrem alterações cardiovasculares, afinal, seu sistema cardiovascular também se encarrega de fornecer as substâncias necessárias para o desenvolvimento fetal e eliminação de resíduos através de um novo órgão, chamado placenta. Ela sente dores, a estética de seu corpo muda, mas ela se sente feliz por isso.

Nossa, quanta garra, quanto poder!

Todo esse processo é belíssimo, contudo, existe um composto orgânico cujas moléculas contêm todas as instruções genéticas que o coordenam. Chamamos de DNA, o código da vida. Que fantástico!  A estrutura do DNA é basicamente uma fita dupla que se enrola formando uma estrutura helicoidal. Tais fitas são formadas por esqueletos de fosfato e açúcar ligados a bases nitrogenadas chamadas Adenina, Timina, Citosina e Guanina. Elas foram pares ao unir as duas fitas, originando, assim, nosso código genético.

Sem dúvidas a descoberta dessa estrutura abriu diversas portas para a compreensão da vida, foi uma verdadeira revolução da biologia molecular e rendeu o prêmio nobel para James Watson e Francis Crick, em 1962.
Mas havia algo espetacular por detrás dessa descoberta, algo que a tornou possível.

No dia 25 de julho de 1920, nascia uma mulher fantástica chamada Rosalind Franklin, que cresceu numa época onde o machismo e preconceito eram ainda mais evidentes do que hoje. Seu pai não apoiava que mulheres tivessem ensino superior, mas sua paixão pela ciência falou mais alto e ingressou numa universidade em Cambridge, onde se formou em 1941. Promoveu importantes pesquisas sobre o carbono e a microestrutura do grafite.

Após obter seu doutorado em 1945, pesquisou sobre técnicas de difração de Raios-X, em Paris. Retornou à Inglaterra em 1951, e ingressou numa pesquisa sobre DNA. A época era sombria para mulheres, Rosalin era menosprezada, não tinha acesso a diversos setores e equipamentos, pois só eram permitidos a homens. Mas ainda assim, enfrentou as adversidades e persistiu em seu projeto sobre DNA.

Entre 1951 e 53 ela chegou muito perto de descobrir aquela fantástica estrutura, mas Crick e Watson conseguiram publicar antes, porém, o que eles jamais revelaram foi que todas as suas descobertas revolucionárias se basearam nos estudos de Rosalin, que fez as melhores fotografias da estrutura do DNA, utilizando técnicas de Raio-X.

Rosalin permaneceu no anonimato até sua morte. Apenas em 2010, foi comprovado que a descoberta pioneira foi fundamentada em suas pesquisas. Agora imaginem o que ela poderia ter feito se tivesse recebido liberdade e apoio? Quantas outras mulheres extraordinárias assustaram o mundo com suas fantásticas descobertas e contribuições para a humanidade e até hoje permanecem desconhecidas? Quantas passarão o resto da eternidade sem serem lembradas ou até descobertas? Infelizmente não sabemos. Então nos resta demonstrar os sentimentos de gratidão a todas aquelas que de alguma forma contribuíram para o bem da humanidade.

Gratidão a Marie Curie, por ser a mãe da física moderna e descobrir os elementos polônio e rádio; a Florence Sabin pelos estudos sobre o sistema linfático e imunológico do corpo humano; a Virginia Apgar por ter contribuído significativamente para a diminuição da mortalidade infantil; a Johanna Döbereiner por seu estudo a respeito da fixação de nitrogênio, o que permitiu que o Brasil se tornasse um grande produtor de soja, e economizasse muito com agrotóxicos; a Williamina Fleming, pela descoberta das milhares de estrelas e nebulosas; a Dandara, esposa de Zumbi dos palmares, que lutou pela liberdade dos negros; a Maria da Penha que lutou e luta contra a violência doméstica e a tantas outras famosas e ocultas mulheres que batalham ou já batalharam por um mundo melhor.

A vocês mulheres, minhas saudações.

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