Escrever é fácil.
Escrever em tempos de pandemia, é mais fácil ainda.
Vai-se juntando, costurando, retocando. Conversando, ensaiando, cortando, acrescentando. Pintando, decorando.
Texto pronto. E pronto!!
É fácil escrever.
Há quem queira ler. Daí existem os que queiram escrever.
No mercado há oferta e consumo. Fome e vontade de comer. Leitura e desejo de ler.
Problema é que o papel em branco vale mais na Bolsa que o escrito.
Mercado dita as regras. Mas elas não valem para sempre.
Um caderno riscado custa quanto?
Quanto custaria o original de Quincas Borba? De A Peste? Ou O Castelo?
Quanto custaria o original do Evangelho de Pedro? Dos Vedas? De Don Quixote?
Escrever é fácil. Viver do que se escreve, do publicado, dos rabiscos, é difícil.
Érico Veríssimo vivia dos seus livros. Machado de Assis precisava publicar seus “Bons Dias” nos jornais.
Luccas Neto vendeu mais em uma pré-venda que um dos livros de Harry Potter, no Brasil.
Auto-ajuda, zero política, linguagem açucarada atraem leitores, é a ordem das estantes em uma livraria.
Dizem que o mercado editorial brasileiro terá redução de 70% nos próximos meses, por causa da pandemia. Será?
Ou será que o celular que serve para assistir ao filme não baixa também um escrito?
Creio nas duas coisas. E creio que a pandemia derruba uma bobagem: brasileiro não gosta de ler.
Ora, escrever é facil. Inventar-se na forma de ler também.
Nosso ethos inclui a curiosidade pelos rabiscos dos outros. Daí o escrever.
Então, atenção: hora de se inventar o ser que escreve, nas formas, nas plataformas e nos sentidos. Os curiosos nos esperam.