Do que adianta uma polícia mais equipada, se o Governo não oferece caminhos para superar o desemprego e mais alternativas para a educação?
O Datafolha fez uma pesquisa que atesta: o brasileiro quer mais investimento nas áreas sociais que nas polícias.
Supõe-se que mais investimentos na polícia signifiquem massacres maiores.
E massacres contra as áreas mais frágeis da sociedade.
O Estado como protagonista da violência não é uma suposição. Está no inconsciente coletivo, na história de um povo.
O mercado está nos melhores pedestais. Mas nem ele consegue justificar, para sempre, escolas ruins, gente em idade escolar fora delas e gente com fome numa produção (recorde) estimada em 245,8 milhões de grãos na safra 2019/2020.
A crise social afeta comportamentos, diz o antropólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário Nacional de Segurança Pública.
Ou seja: o povo vincula desigualdade e violência, explica a socióloga Samira Bueno, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Uma polícia que mata mais pobres e negros não faz segurança pública. E sim chacinas pagas pelo Estado, bancado por estes mesmos negros e pobres.
“O Brasil assume, atualmente, a posição de 9º país mais desigual do mundo. Tal desigualdade não se expressa unicamente através do acesso à renda. O acesso à cidade, à educação formal e ao lazer, por exemplo, são marcados por uma profunda desigualdade. O jovem que reside na periferia, inserido em um contexto violento, representa o principal grupo que figura as estatísticas sobre mortalidade”, diz Gabriel, estudante do doutorado em Psicologia pela UFRN.
Ora, num país desigual, onde pessoas vivem situações de desigualdade até no acesso a postos de saúde, praças, transportes urbanos, saneamento básico, condições de moradia, segurança…
… como se imaginar pessoas deste país vivendo em situações tão ruins queiram acreditar que a bala, disparada pela polícia, e a munhecada da mesma polícia, sejam os remédios para tantos e complexos problemas?
Pois é.