Evento político de grande importância em todo mundo, as marchas do Orgulho LGBTQIA+ carregam um significado importante para as minorias sexuais e ativistas pelos direitos humanos: representam um momento de manifestação da comunidade, das suas diferentes designações e reivindicações por políticas públicas, acesso à saúde, educação e direito à vida.
Mas ocorre que quando se aproximam as eleições ou momentos específicos em alusão à comunidade, políticos e empresários buscam apoio para a defesa de seus interesses pensando em alavancar candidaturas a partir da adesão de segmentos e cooptar os sentimentos de simpatia por causas sociais como os da comunidade LGBT.
Em países como o Brasil, onde o conservadorismo é uma expressão da ideologia dominante, a comunidade LGBTQIA+ encontra nestes espaços de livre manifestação a ânsia por reconhecimento social e político de suas dificuldades em gozar da cidadania plena, com diretos iguais e livre de violência.
Segundo o Grupo Gay de Alagoas (GGAL), só em 2022, o estado registrou 10 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+, neste ano o número subiu para 14. A violência é parte real da vida de muitos.
O prefeito João Henrique Caldas, o JHC, é o exemplo perfeito da promoção do “pinkwashing”. Trata-se da junção da cor rosa – em inglês “pink” – com o verbo “to wash” que quer dizer “lavar” na língua inglesa.
A prática diz respeito a aproximação de agentes políticos e econômicos da comunidade gay para fazer uma “lavagem” em suas intenções: mascarar falta de políticas reais para comunidade ou que viabilizem mudanças na vida deste segmento.
Um bom exemplo disso é a aproximação de marcas do movimento LGBTQIA+ no mês do orgulho (junho), mas que não promovem práticas de combate à violência entre seus funcionários e estrutura organizacional. Porém, por estar próxima e até patrocinar eventos se pressupõe que sejam “gay-friendly” (simpatizantes da causa).
Ultraliberalismo e extrema-direita: JHC e o Bolsonarismo
Em 2022, pouco antes da eleições presidenciais, JHC deixa o Partido Socialista Brasileiro (PSB) para integrar o Partido Liberal (PL), que reúne conservadores ultraliberais de extrema direita que apostaram pesado na criminalização da comunidade gay, na transfobia e no anti-feminismo para convencer a população de que gays são um desvio, impulsionando fake news sobre “ensinar” a ser gay nas escolas e o pânico moral em torno do casamento de pessoas do mesmo sexo.
Além de acolher e apoiar o bolsonarismo, a imagem e prática política de JHC impulsionou o conservadorismo em Maceió: deu a capital o título de “Florianópolis do Nordeste”, fazendo menção ao conservadorismo de extrema-direita que reside na capital de Santa Catarina, sul do Brasil.
No Congresso Nacional, o PL é o partido que mais combate o movimento gay e que viabilizou, recentemente, o parecer que tentou proibir o casamento homoafetivo: o relator foi o deputado Pastor Eurico (PL-PE).
No entanto, apesar dos pesares, Maceió boa é “Maceió com Respeito”: é o que apregoa o programa e peça publicitária divulgada pela Semuc (Secretaria da Mulher, Pessoas com Deficiência, Idosos e Cidadania).
De acordo com o órgão o evento com o cantor nacional e ícone jovem da população LGBTQIA+, Thiago Pantaleão – além da participação de artistas locais – vão dar abertura ao programa, cujo o objetivo é para promover cidadania, direitos e desenvolvimentos de ações voltados a comunidade. (Pinkwashing?)
Lideranças e ativista políticos do movimento do LGBT em Alagoas questionam o programa e apontam para o vácuo no orçamento que viabilize seus objetivos. No ponto de vista deles, não houve diálogo com os movimentos organizados. Eles acusam o programa de ser “fake”.
“Toda mentirada, para enganar a população LGBT”, disse o ativista Nildo Correia ao Repórter Nordeste.
“Não buscou o movimento. E na verdade eles divulgam um programa, que não incluíram nem no orçamento de 2024. Primeiro que eles divulgam um programa fake, pois como irão executar algo, sem garantir dotação orçamentária?”, questionou.
Marcelo Nascimento, presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) em Maceió, ativista e fundador do Movimento LGBTQIA+ em Alagoas postou nas redes sociais um vídeo em que afirma que na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para o município de Maceió para 2024 “não existe previsão legal de realização deste programa no orçamento da Prefeitura de Maceió, ou seja, mais um programa fake, que não tem coerência fiscal e orçamentária”.
“Não atinge, não contempla os pressupostos de uma política pública: a intersetorialidade, a interdisciplinaridade, a transversalidade, a previsão orçamentária, participação social e o controle social e monitoramento de uma política pública”, declara.
Veja o post:
“Esse tratamento com o movimento social LGBTQIA+ é típico do período da Ditadura Militar, perseguindo politica e administrativamente lideranças que se opõem a seu pensamento nazifascista”, diz a legenda de seu post.
Ao Repórter Nordeste, Marcelo também afirmou que não houve diálogo prévio com o movimento LGBT de Alagoas para participação no programa.
“Não houve nenhuma discussão com o movimento organizado, no sentido de ouvir as demandas da população LGBT, grupos, das organizações”
O Repórter Nordeste procurou a Prefeitura – por meio da assessoria de comunicação – para mais informações sobre o programa. Em nota, a Semuc informou que a previsão orçamentária é de 5,5 milhões para o ano de 2024 e que o recurso será destinado a projetos de fortalecimento da cidadania.
Sobre o diálogo, órgão prevê a realização da 1ª Escuta Ativa com o movimento LGBTQIAPN+ de Maceió.
Veja a nota na íntegra:
Nota
A Secretaria da Mulher, Pessoas com Deficiência, Idosos e Cidadania (Semuc) informa que a previsão orçamentária é de 5,5 milhões para o ano de 2024 e que o recurso será destinado a projetos de fortalecimento da cidadania, com destaque para o Programa Maceió com Respeito.
A Semuc ressalta ainda que se mantém à disposição para ouvir e trabalhar pela resolução de necessidades de diferentes grupos sociais. Neste mês, o órgão promoveu a 1ª Escuta Ativa do Movimento Negro, e ainda este ano, está prevista a realização da 1ª Escuta Ativa com o movimento LGBTQIAPN+ de Maceió, ações para promover a inclusão e garantir que políticas públicas atendam de forma abrangente a diversidade da sociedade maceioense.