Pesquisa identifica substâncias estimulantes para reprodução de mosquitos vetores da dengue‏

Jhonathan Pino – Jornalista Ascom/Ufal

Encontrar algo que solucione a disseminação da dengue nas cidades é o principal foco de pesquisa do Laboratório de Síntese e Isolamento de Feromônios (LaSIF). Sob a orientação de Cristina Andrade, professora do Instituto de Química e Biotecnologia (IQB), o grupo analisa mecanismos para impedir a proliferação dos mosquitos Aedes aegypti Aedes albopictus.

A oviposição é a etapa em que o mosquito põe os ovos em determinado meio aquoso para que eles venham a se desenvolver. Para realizá-la, o inseto escolhe um ambiente que requer uma interação complexa entre os fatores físicos, químicos e biológicos. Junto com quatro bolsistas de iniciação científica, Cristina Andrade procura identificar quais são os principais semioquímicos responsáveis pela atração das fêmeas. A primeira descoberta do grupo foi que a presença de Aloe Vera em água parada era um dos fatores propícios ao estímulo da oviposição da espécie.

Com intuito de encontrar os pontos de atração dos insetos, o grupo mantêm uma colônia de mosquitos, que são mantidas em gaiolas teladas com nylon. Nessas gaiolas, os pesquisadores colocam 20 fêmeas grávidas do mosquito Ae. aegypti e recipientes contendo água e possíveis substâncias estimulantes, para que elas ponham seus ovos. É a partir da rejeição ou escolha destes recipientes que são tiradas as conclusões. “Uma vez que os resultados de oviposição são analisados e considerados estatisticamente satisfatórios, essas matrizes aquosas, consideradas estimulantes do comportamento de oviposição, são submetidas a diferentes métodos de extração”, explica a professora.

Procedimentos da pesquisa

Nos bioensaios são postos dois copos descartáveis de 100mL em cada gaiola. Um copo contendo a água controle (água destilada) e o outro contendo a água teste. Nas primeiras experiências, foram testadas a infusão de Aloe vera e de Allium fistulosum (cebolinha), assim como os extratos obtidos a partir destas infusões. “Os copos ficam no local durante 16 horas e os ovos postos nos copos são recolhidos e quantificados. O procedimento é repetido pelo menos 10 vezes, para que os resultados obtidos sejam tratados estatisticamente”, detalha Cristina.

Após os experimentos para a determinação dos estímulos de oviposição, são obtidos os extratos das matrizes aquosas estimulantes. “Os extratos biologicamente ativos são posteriormente analisados por meio de estudos eletrofisiológicos, para que seja confirmado o seu potencial estimulante de oviposição”, acrescenta a professora.

Os estudos também são realizados com as antenas de fêmeas grávidas do mosquito. Os sinais provenientes das antenas são amplificados e analisados em um computador, usando um programa especial para isto. A partir do registro de eletroantenograma é possível analisar a sensitividade dos insetos em relação às substâncias.

Armadilhas naturais

É a partir da identificação dessas substâncias que os pesquisadores do IQB podem solucionar uma das doenças tropicais que representa maior ameaça à saúde pública global. Os mosquitos-vetores de doenças são responsáveis anualmente pela infecção de milhões de pessoas em todo mundo. O problema se torna maior devido a sua grande proliferação, proporcionado pelo alto número de criadouros nas aglomerações urbanas.

“O controle e monitoramento de mosquitos-vetores podem ser realizados em locais específicos por meio da utilização de armadilhas contendo semioquímicos. Uma vez capturados os ovos, estes podem ser destruídos mecanicamente, ou por meio da utilização de compostos químicos de maneira mais seletiva”, relata Cristina

Outro fator responsável pela interferência dessa espécie no habitat urbano é a resposta de seleção natural do mosquito ao uso humano dos inseticidas tradicionais para combatê-los. O uso indiscriminado desses produtos faz com que as espécies mais fortes sobrevivam e gerem proles mais resistentes. “A busca por definição de substâncias atrativas para o mosquito como forma de controle das doenças também é uma resposta a nova mentalidade ecológica existente. Em todo o mundo, pesquisadores buscam soluções como essa para evitar o dano ao meio ambiente”, diz a pesquisadora.

Consciência social como fator de combate a dengue

Cristina Andrade ainda relata que independente da forma de controle tomada pelo poder público, a melhor ação a ser tomada é a conscientização da população. “Mosquitos Aedes aegypti depositam seus ovos individualmente nas paredes internas de vasilhames, próximos da superfície da água e até mesmo na superfície, tendo o hábito de espalhar seus ovos em vários depósitos aquáticos diferentes”, diz.

Os locais escolhidos pelos insetos contêm água relativamente limpa e com pouca matéria orgânica dissolvida. Os depósitos aquáticos são sempre localizados próximos da presença humana, tais como os pneus usados, caixas de águas abertas, latas vazias, copos plásticos descartáveis, vasos com plantas aquáticas e pratos de plantas. Pesquisadores também apontam o cemitério como maior fonte de proliferação de mosquitos do mundo, devido a grande quantidade de flores conservadas, com água e matéria orgânica disponível para a sobrevivência da larva do mosquito.

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