“Perdi minha senha e com ela todo o meu investimento em moedas eletrônicas”

Uma simples perda de senha de acesso após uma violação digital e todo um investimento em criptomoedas, acompanhando de sua rápida e expressiva rentabilidade, torna-se subitamente inacessível. O enredo e, em particular, seu desfecho, é o pesadelo de todo e qualquer investidor, mas ocorreu de fato no Brasil.

“E o pior: pode se repetir caso medidas de proteção e gestão de dados não sejam priorizadas”, afirma Fernando Carbone, diretor sênior de segurança cibernética da consultoria Kroll no Brasil.

O personagem dessa tragédia financeira é o pequeno empresário Christopher Montenegro, 51 anos. Há poucos meses, entusiasmado pelos rendimentos registrados no mercado de moedas eletrônicas – a rentabilidade apenas este ano foi de 300%, segundo fontes do setor – ele resolveu que apostaria mais nesse investimento.

E a notícia de um leilão de criptomoedas que daria aos compradores o benefício adicional de um cartão de crédito emitido por uma tradicional empresa financeira, para uso em estabelecimentos que já reconhecem a unidade monetária virtual, pareceu a oportunidade perfeita.

Confirmada pelo operador da moeda, a transação se deu por meio de um aplicativo que seria o instrumento de gestão de sua nova carteira virtual. E transcorrido apenas um mês do lance inicial, Montenegro viu seu investimento quadruplicar em valor.

Mas nesse mesmo período, experimenta um problema de segurança e acesso em seu computador pessoal e, ao tentar repará-lo, tem acidentalmente o aplicativo deletado do sistema e, consequentemente, fica impossibilitado de qualquer verificação ou movimentação de seus recursos.

O choque maior, contudo, veio na sequência, ao descobrir que, diferente do “mundo real”, não havia a quem recorrer para suporte. “Percebi então o quão frágil é a posição de um pequeno investidor nesse tipo de operação financeira, na qual o comprometimento de um password ou chave, pode representar literalmente a perda do seu investimento”, comenta.

Ao optar pelas moedas eletrônicas, Montenegro não imaginava que a partir de questões cibernéticas pessoais poderia chegar a esse termo, nem que não houvesse “um plano de contingência” pelas entidades. Afinal, “senhas podem se perder, computadores podem ser roubados ou danificados”.

Gestor e zelador

Essas possibilidades realmente existem, assim como são cada vez maiores e mais sofisticadas as ameaças de malwares e arquivos maliciosos. Por isso mesmo, Carbone, da Kroll, defende atenção e cuidados redobrados para mitigar riscos por quem está ou pretende se lançar no universo das moedas eletrônicas.

O especialista chama a atenção para o que considera um risco “infelizmente ainda pouco considerado”: o gerenciamento de informações pessoais e de segurança, que são de responsabilidade objetiva do investidor em moedas eletrônicas. Em sua avaliação, as questões que dominam as discussões têm sido chances de volatilidade e ataque hackers, como o que afetou a plataforma sul coreana Bithumb pelo fim de junho, resultando em perda milionária e no comprometimento da conta de usuários.

Segundo o executivo, ponto fundamental para qualquer investidor é ter clareza quanto as regras e funcionamento do “jogo”, em particular com o fato desse sistema financeiro prescindir de um custodiante ou poder centralizador. “Isso cobra grande responsabilidade e exige governança por parte dos usuários, que ocupam ao mesmo tempo as funções de gestor e zelador de sua carteira”, comenta.

Com essa dupla atribuição, a defesa do patrimônio passa também a envolver o armazenamento e a proteção de informações. Para Carbone, a segurança deve orientar todas as decisões do investidor em criptomoedas.

Nesse sentido, ele recomenda backups digitais e físicos de dados como senhas ou chaves de acesso, e a escolha por aplicações ou plataformas reconhecidas que ofereçam pelo menos duplo fator de verificação de identidade.

Como as transações se dão única e exclusivamente no ambiente virtual, é determinante manter dispositivos devidamente configurados e com operações atualizadas, além de um antivírus instalado permanentemente.

A prevenção também deve contemplar os meios de comunicação, com a criação de senhas fortes e diferentes para cada canal. O especialista em segurança cibernética ainda reforça a necessidade de atenção com links e outros arquivos suspeitos trocados por e-mails ou postagens.

“São ações de simples execução que não podem mais ser negligenciadas no atual contexto, muito menos por quem tem recursos aplicados em moedas eletrônicas”, afirma Carbone. “Infelizmente, a maturidade para a segurança preventiva deve ainda custar novas vítimas e vir pela dor”, completa.

Fonte: Assessoria

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