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Paulo Dantas, que mira Governo-tampão, ainda vê Alagoas como uma grande fazenda

O deputado estadual Paulo Dantas (MDB)- talvez o político mais ligado ao presidente da Assembleia, Marcelo Victor (SD)- se movimenta no cenário eleitoral de olho na vaga de governador-tampão para o próximo ano. Vaga que será aberta se Renan Filho renunciar, como deseja, para disputar a cadeira de senador, hoje ocupada por Fernando Collor, que vai à reeleição.

A ideia agrada aos parlamentares estaduais. Eles é quem serão os eleitores. A votação ao Governo-tampão é indireta e quem ganhar deixa o comando da administração pública em dezembro de 2022.

Paulo é neto de dois grandes produtores rurais: Antônio Amaral e Miguel Rodrigues. Sua mãe, Bernadete, é prima do ex-governador Divaldo Suruagy.

O deputado carrega nos discursos para convencer seus pares. Num deles, descobriu que o orçamento precisa privilegiar os mais pobres (que coisa!). No mais recente, falou em causa própria ao insistir que produtores rurais precisam ser incentivados em seus trabalhos. Recado ao Estado, por óbvio, para que os cofres públicos permaneçam escoando dinheiro aos mais ricos do campo, mesma estratégia adotada pelos usineiros desde os tempos dos engenhos.

Paulo é produtor rural, assim como seu pai, o ex-deputado Luiz Dantas, avôs, bisavôs, trisavôs. Este personagem que é tratado como o futuro governador-tampão enxerga Alagoas como uma grande fazenda, onde bois e vacas se revezam num pasto cercado e se preparam para engordas, exposições, darem leite, carne, semem.

Mas, onde está o povo nos discursos deste jovem político? Eis a questão: Não está.

Para efeito de comparação, sua colega de parlamento, Jó Pereira (MDB), tem uma visão social mais aguçada. Não há como negar que ela insiste no uso do Fundo Estadual de Combate à Pobreza para os mais afetados pela pandemia: os mais pobres. Ela também mira o Palácio República dos Palmares.

Paulo Dantas é um parlamentar milionário. Não combina mais usar a tribuna em causa própria. Isso não é inovação, mas um continuísmo pouco inteligente porque do lado de cá não existem bovídeos nem muares. Sim, existe vida inteligente entre os eleitores.

Dantas não precisa insistir neste discurso embolorado e pouco convincente de que a solução de Alagoas está nos pequenos produtores rurais. Na Assembleia, nenhum dos deputados com bois e vacas em seus patrimônios é pequeno produtor rural. Alguns são latifundiários, acostumados a mamarem nas tetas estatais, parindo herdeiros que arrumam mais tetas, onde seguirão parasitando as estruturas de poder locais.

Porque uma parte destes endinheirados é pouco capaz de sobreviver da meritocracia que tanto pregam; outros são incompetentes mesmo, indicados a empregos públicos por falta de capacidade para qualquer outra atividade. O burocratismo português não é coisa do passado. Está entre nós.

Paulo Dantas pode abrir a porta do cercadinho, deixar de atuar para ele mesmo e conhecer uma outra Alagoas. Condições ele têm para isso. Mas, ele vai querer?

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