Parabéns à todas as mulheres

mulher

Por Edson Bezerra

No dia 08 de Março, como se sabe, data em que comemorou o Dia da Mulher, amplie no dia, aqui pelo face, imagens de mulheres, sobretudo as da cidade de Maceió, empunhando bandeiras nas defesas de seus direitos e, naturalmente, palavras de ordem contra a violência dos homens.

Todavia, me pus a pensar sobre a violação do feminino, e, metaforizando, as imagens foram me levando a formular estranhas ficções, visto que, toda violência, seja ela de qual tipo for, tem que ser contextualizada, e, contextualizada no concreto, posto que, Maceió sendo ela uma cidade, toda ela feminina, e enquanto feminina, toda ela vem sendo, sistematicamente violentada.

Violentada sim, posto que, sendo do feminino o acolhimento, existirá algo mais feminino e acolhedor do que as praças? E de que modo se encontram as praças da cidade? E o que dizer da Lagoa Mundaú a qual, durante séculos e séculos têm alimentando a fome a a sede desta cidade e que agora se encontra agonizando na cara de todos e de todas e diante de uma consciência coletiva, a qual, alienada, teima-lhe em dar-lhes as costas? E não estará havendo com a lagoa Mundaú, algo semelhante à agonia silenciosa das águas do Salgadinho, sendo ele mesmo, o Salgadinho, um duplo da replicação do que aconteceu com o Riacho do Sapo no bairro do Poço, e que já há algumas décadas também está a acontecer com o riacho de Jacarecica?

Pois que então, no dia em que as mulheres pedem mais dignidade, fiquei por aqui a pensar nos meus botões, que toda a gestão da cidade de Maceió, desde há décadas passou a ser administrada por uma elite desalmada que mais se parecem com uma trupe de gigolôs que vendem a materialidade e a imaterialidade de cidade, da mesma forma que o gigolô se apossa e vende o corpo de uma prostituta.

É não? Vejamos o exemplo das praias.

Não são elas vendidas (aos turistas sobretudo) a depender dos adornos que elas têm e, na medida em que as tem, mais elas são violadas? Enquanto mais bela, mais alto os preços dos hotéis e dos bares e também ainda dos souvenires, e, enquanto mais belas, mas policiadas e protegidas, visto que, o produto (o corpo, a materialidade de que se fazem as praias: os hotéis, os passeios, etc.) devem ser preservados para serem vendidos.

Pois que então em fiquei a pensar se não seria o caso das mulheres – delas que nos geram, e também, mesmo mãe dos nossos filhos; delas das quais, que por entre amores, dores e desilusões, retiramos as articulações das poesias e sonhos – lutarem pela feminilização da cidade, pois que seria isto, mas do que lutar por um dia, uma data, – a qual, por mais importante que seja – não se esgota e nem se esgotará nunca em um dia, posto que, algo de profundamente feminino se compõe o mundo, e por aqui em nossa cidade, mas do que nunca a feminilidade deste mundo está regido sob o signo do estupro e da violência.

Posto que, – repetindo – estuprada e prostituídas estão as nossas praias, a lagoa Mundaú, a feminidade dionisíaca das festas (natal, São João e Carnaval), as nossas praças, e, sobretudo, diante da ausência e plenitude do feminino, estuprado estamos nós mesmos, homens, os quais, na ausência de um feminino pleno que se oferta e acolhe, estamos todos empobrecidos e menores de tamanhos no tamanho que poderíamos ser.

Significativo e pensarmos que, diante da prostituição e vendagem dos cenários paradisíacos, as prostitutas mesmos sumiram das ruas, como que, diante de uma profilaxia silenciosa da violência, elas sentissem vergonha de seus corpos, diante de uma cidade que não tem olhos e desejos nem de amar a se mesma.

Pois que vivam então todas as mulheres e que nos retorne em urgência toda a feminidade e o acolhimento adormecido de nossa cidade, e que, assim seja.

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